Portugal vive em estado de guerra. Não é a melhor imagem para usar em véspera de Natal, mas a culpa não é minha. Foi o primeiro-ministro quem nos convocou, na semana passada, para cumprir uma espécie de serviço militar de emergência. Em cada português, presume Passos, tem de haver "um soldado para vencer a guerra da crise", sem medo de dar o peito às balas, heroicamente na "linha da frente".
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Suspeito que o chefe deste Estado-Maior com poderes delegados pela troika vai rapidamente perceber que é um general sem tropas. Não porque os portugueses não sejam patriotas; não porque os portugueses não estejam dispostos a sacrifícios; não porque os portugueses não estejam até dispostos a ajudar a pagar os desmandos da tropa fandanga que nos governou até aqui.
Passos não terá exército porque, apesar da sua generosidade, os portugueses estão exauridos. A batalha vai longa e o primeiro-ministro em chefe faz questão de nos deixar sem munições: porque vem aí o maior assalto fiscal alguma vez executado sobre os soldados que Passos quer agora no combate; porque vem aí mais um corte nas pensões dos soldados que trabalharam muitos anos e descontaram outros tantos, confiando que o Estado honraria os seus compromissos e serviços à pátria; porque vem aí, dentro de dias, mais uma vaga de falências e de despedimentos que engrossará um exército, sim, mas de desempregados; porque vem aí, dentro de dias, mais uma vaga de notícias sobre fome, seja nas ruas, seja nas escolas.
Portugal vive em estado de guerra. Nisso tem razão o comandante. Parece é que ainda não percebeu que os portugueses não são soldados, são vítimas.