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A morte de bin Laden, autor moral de um dos mais hediondos atentados contra a vida humana no longínquo mas ainda tão presente 11 de Setembro de 2001, às mãos das forças especiais norte-americanas foi ontem vista pelos mais optimistas como o provável início do fim do terrorismo. Ou, no mínimo, como uma potente machadada nos movimentos que, na senda da al-Qaeda, pretendem impor à bomba o seu modo de viver. Tristemente, os factos não parecem sustentar tanta alegria.
O desaparecimento de bin Laden deixa-nos mais seguros? Deixará, mas apenas do ponto de vista imagético. O ex-líder da al-Qaeda personificou, durante anos, o "mal": era ele a face dos que estavam dispostos a morrer para fazer sofrer os "infiéis" e "impuros" (ou seja: nós).
Sucede que, do ponto de vista prático, bin Laden há muito deixara de ser o herói dos árabes. Isto é: a sua existência, às claras ou às escondidas, já não era determinante para a prática de actos terroristas. E é por isso que a sua morte pouco acrescenta ao grau de segurança com que podemos contar no nosso quotidiano. O director da publicação norte-americana "The New Yorker" dizia ontem que "a luta contra o obscurantismo e o terror continua infinitamente complexa e reclama, entre outras coisas, liderança política que reconheça a importância da mente e do coração, bem como do muscúlo". As declarações de contentamento ontem proferidas por variadíssimos líderes políticos de todo o Mundo não podem fazer-nos esquecer isso mesmo: sem liderança e coordenação entre estados e nações, sem o uso ponderado das convicções e da responsabilidade e sem a coragem de recorrer à força em defesa dos nossos valores contra quem os põe em xeque à custa de actos criminosos, não avançaremos numa luta que tem séculos e ameaça não conhecer o fim.
Verdade que do Norte de África e do Médio Oriente chegam interessantes sinais de mudança. As alterações demográficas e tecnológicas acopladas ao aparecimento de uma juventude ávida de conhecimento e conectada com a modernidade via Internet geram revoltas (impensáveis há uns anos) em países como o Egipto, a Líbia e a Síria. Nas ruas árabes em que se exige democracia não se vêem bandeiras da al-Qaeda ou símbolos de adoração a bin Laden. Ainda assim, convém não menosprezar as redes terroristas - elas estão feridas, mas não estão mortas.
