<p>Muita classe política e gente que gravita à sua volta ou nada aprendeu ainda com a crise ou julga poder fugir-lhe correndo em frente. A batalha neste momento é contra a crise.</p>
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Saber se há, ou não, remodelação governamental tornou-se por estes dias um exercício com crescente número de adeptos. Apostar é uma actividade a que os portugueses aderem facilmente, embora não se saiba exactamente o que ganham com isso. Ninguém avança com razões claras para sustentar a tal remodelação. A crise, parece, obrigará a que Sócrates redistribua pastas. Nada de mais enganoso. As crises são tempos em que muito boa gente se afasta, por saber que as suas ambições podem arder lentamente em fogueiras brandas, ou por temer que o seu valor se confunda com a incompetência dos que sempre aparecem como salvadores.
O que este falatório vem afinal provar é que muita da classe política e gente que gravita à sua volta ou nada aprendeu ainda com a crise, ou julga poder fugir--lhe correndo em frente. A batalha, neste momento, é contra a crise. E não sendo possível, desculpem a insistência, juntar partidos, patrões e centrais sindicais na tentativa de encontrar uma plataforma mínima de entendimento, o que resta é combater a crise. Não há espaço para mais do que conter o défice, não gastar mais do que está previsto no Orçamento.
De resto, a política portuguesa está numa fase perfeitamente atípica. Estamos à espera. À espera de eleger um Presidente sem o menor entusiasmo, porque se instalou a convicção de que não há a menor possibilidade de essa eleição mudar o que quer que seja. À espera de poder ir votar outra vez, para se acabar com esta insistente impossibilidade de diálogo que os partidos, cada um por sua razão, parecem ter decretado. Até lá, podem os bloguistas do PSD entreter-se a fazer o "seu" Governo com o que lhes chega de murmúrios da São Caetano; pode o resto da Oposição clamar quem são os ministros que não devem continuar em S. Bento (desde logo Sócrates); pode o próprio José Sócrates cair na tentação de fazer uma remodelação, apesar de tudo a legítima, pois é o único que a pode fazer. Mas nada adiantará. Inexoravelmente, tudo continuará na mesma. À espera. Estamos, em obediência à lógica que os partidos impuseram fugindo do diálogo, incapazes de nada mais do que ficar, tristemente,à espera.