Corpo do artigo
“Torturem os números que eles confessam”. Este é o título de um interessante livro, da autoria do economista Pedro Nogueira Ramos, que nos mostra como é fácil ler de forma errada a estatística. Ora, nessa linha de abordagem heterodoxa, atentemos nuns dados recentemente publicados pelo Eurostat sobre habitação. Peço a atenção dos partidos políticos e dos (e)leitores. Se o assunto estiver ausente da campanha eleitoral que se aproxima, centrando-se antes em questões despiciendas para o comum cidadão, então as notícias sobre a morte dos partidos não são manifestamente exageradas.
Na sua edição de 2023, o press release da publicação intitulada “Habitação na Europa” mostra-nos um ranking europeu da percentagem de famílias que possuem ou arrendam casa. A lista está ordenada pelo critério da propriedade. A Roménia surge à cabeça (94,8% são donos). Portugal está em 11.º lugar no conjunto da União Europeia a 27, com uma percentagem de proprietários de 77,8%, segundo dados relativos a 2022.
A Roménia é precisamente aquele país que alegadamente estará a ultrapassar Portugal no nível de vida, de acordo com um estudo da Faculdade de Economia do Porto. Estes dados mereceram logo a contestação de Rui Lage, vice-presidente da bancada do PS, uma vez que a Roménia atual assemelha-se muito ao Portugal de antanho (baixa esperança de vida, alta taxa de mortalidade infantil, salário médio muito abaixo do português, entre outros indicadores). Voltando ao Eurostat, ao decompor o ranking pelo número de proprietários com créditos, então a Roménia cai a pique e é largamente ultrapassada por Portugal. Ou seja, lá, o custo dos imóveis não está sujeito aos solavancos das Euribor. Rui Lage lembra que um terço dos agregados romenos vive em casas degradadas ou em barracas.
Em conclusão, os altos preços praticados em Portugal e o custo do crédito fazem do acesso à habitação minimamente digna um problema de urgência nacional.