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Vem aí uma nova vaga de encerramentos de escolas e com ela a recorrente discussão sobre a validade do caminho que o Governo prossegue. Autarcas, pais e professores dirimem argumentos com o Ministério da Educação, muitos dos quais válidos, desde o aumento de custos em transportes escolares ao risco do desemprego dos docentes, passando pela qualidade pedagógica. Não é, contudo, seguro que, entre corporativismos e egoísmos, se reserve espaço à avaliação dos reais interesses das crianças, que deveriam estar no centro do debate. Embora todos os intervenientes se arroguem seus porta-vozes.
Quem acusa o Governo de adoptar uma perspectiva meramente economicista, exclusivamente assente em poupanças, esquece que essa dimensão não pode deixar de ser um dos condimentos deste refogado. Por outro lado, cabe ao Governo provar que a mudança é para melhor, especialmente no plano pedagógico - e é certo que notícias sobre centros escolares tecnologicamente muito evoluídos, mas que já rebentam pelas costuras, não abonam a seu favor.
Uma escola isolada, com meia dúzia de alunos, não os prepara devidamente para a vida. Pelo contrário, pode constituir factor de exclusão. Desde logo porque não é motivadora para os professores, não lhes proporciona instrumentos pedagógicos, não lhes oferece condições de aperfeiçoamento profissional. Porém, fechar uma escola pode ser meio caminho andado para "fechar" uma aldeia, sobretudo as situadas no Interior, cada vez mais entregue à sua sorte, cada vez mais desertificado.
É por isso que ver este filme a preto e branco é desaconselhável. Não estão forçosamente de um lado os "maus", que só sabem conjugar o verbo fechar, e do outro os "bons", que tudo fazem para preservar o que a comunidade disponibiliza.
Talvez a alternativa seja examinar cada uma das situações. E tratar de forma diferente o que diferente é, em vez de assinalar cegamente o efectivo a abater, fazendo cruzes num mapa que não "explica" tortuosas acessibilidades aos novos estabelecimentos de ensino, nem revela quantas horas têm as crianças de passar em autocarros para irem à escola.