A revista do "Expresso" trazia, este fim-de-semana, uma lista de nove jovens mulheres que, em domínios desde a ciência à moda, aquele jornal considera virão a ser protagonistas nos próximos dez anos. Na lista consta uma investigadora que vive no Porto, uma artista originária do Porto que vive em Londres. Todas as outras vivem em Lisboa. Quanto ao resto do país, é o zero absoluto.
Corpo do artigo
Há duas maneiras de encarar estes trabalhos. Uma desvaloriza-o, tomando-o como uma "lisboetice", sendo a lista mais o resultado da preguiça, ou preconceito, dos jornalistas do que reflexo da realidade do país. Se for esse o caso, o que é de duvidar numa publicação com o prestígio do "Expresso", arrepia a leviandade com que os jornalistas em causa atiram assim com uma lista, sem se interrogarem sobre o seu real significado. Mais do que espelho do país, aquela selecção traduziria uma maneira de pensar que não vê problema nenhum em que todo o potencial esteja concentrado praticamente numa cidade e que o resto do país seja tão-só paisagem, boa para fruir, quando muito, aos fins-de-semana.
Se esta perspectiva já era má, se admitirmos que aquela lista e outras que têm aparecido para os homens reflectem as dinâmicas futuras, então não há como não ficar preocupado. Desde, pelo menos, meados da década de 1980, Portugal é um país não apenas fortemente centralizado, como penalizado por isso. Para produzir um certo efeito, o investimento na Região de Lisboa era superior àquele que seria necessário noutra região do país. O atraso português em relação à média europeia e a especificidade de certos investimentos, apenas passíveis de ser realizados onde já haja outras infra-estruturas complementares, deram o pretexto para que, ainda assim, se continuasse a canalizar fundos para a capital. A justificá-lo apareceram, ainda, outros tantos estudos (?) que apontavam para uma putativa mudança do modelo de especialização, atribuindo a Lisboa a capacidade de produzir um efeito multiplicador que não só inverteria o desperdício anterior, como tornaria o país um beneficiário líquido de tal estratégia. O resto é história. Lisboa conseguiu, na verdade, melhorar o seu PIB per capita, ultrapassando a média europeia. À volta continua tudo na mesma, à espera de que os investimentos na capital venham a salvar o país pelo miraculoso efeito de spill-over.
Por isso, talvez aquela lista reflicta mais a nossa realidade do que gostaríamos. Não admira que quando o constatam, os jovens do resto do país votem com os pés, emigrando. Ao contrário do filme: este país é para velhos. Os jovens têm, para já, algum futuro em Lisboa e, quando muito, no Porto. Se continuarmos a pensar e agir como até agora, não há PEC que nos valha.