Ainda não havia televisão e a «matinée» ao domingo fazia parte do ritual familiar. Então, os cinemas eram enormes, com largas centenas de lugares, mais de 3 mil (!) no Coliseu.
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Não havia, democraticamente, lugar único, mas toda uma panóplia que marcava a diferença económica ou social. Havia a 1.ª e a 2.ª plateias, o 1.º e o 2.º balcões, a galeria reservada, a geral. Não se passava apenas a fita corrida, como agora; primeiro vinham os «complementos», depois um intervalo de 10 minutos, depois o filme e, a meio, novo intervalo. Íamos fumar um cigarro ou acotovelar-nos no bar.
Era o século de ouro dos cinemas, e o Porto tinha alguns belos representantes desse período: o S. João ou o Coliseu, o Trindade ou o Rivoli. Quantas vezes, com orgulho, afixavam nas bilheteiras o letreiro «Lotação esgotada»? Mas esses dinossáurios foram desaparecendo, acompanhando a agonia de um determinado estilo de vida. Primeiro, foram os modestos cinemas de «reprise», o Odeon, em Pinto Bessa, o Central Cine, na Carcereira, o Parque das Camélias, na Batalha, o Cine Foz. E, à maneira que os «multiplex» iam invadindo a cidade, os grandes cinemas iam desaparecendo, uns atrás dos outros. Restam alguns, ou estatizados ou municipalizados - mas, de facto, elefantes brancos que só uma (saudável) teimosia sentimental ainda aguenta. Casos do S. João e do Rivoli, do Carlos Alberto e do Batalha.
Porém, a sentença de morte deste acaba de ser declarada. É um belo edifício, de uma arquitectura que marca uma época, mas a sua utilidade é praticamente nula. O título do JN é um epitáfio: «Batalha fechou, ficou sem gestão e não tem destino». Decididamente, este tempo não é para Batalhas. Resta-me verter uma lágrima de saudade sobre esse tempo que não voltará mais...
