É difícil compreender como, em 2025, continuamos a aceitar como normal que nem todos os centros dos municípios portugueses estejam ligados por uma infraestrutura rodoviária principal. E gastar-se dinheiro público em nome da coesão territorial e do combate às assimetrias entre o litoral e o interior.
O caso de Beja é paradigmático. Uma capital de distrito que continua sem uma estrada condigna desse estatuto, apesar de décadas de promessas, estudos e anúncios repetidos. Fala-se, planeia-se, volta-se a falar. Mas Beja permanece longe das prioridades.
O mesmo sucede com Arouca, curiosamente, a minha terra natal, onde desde criança aguardo por essa ligação. Um concelho que aposta, e bem, no turismo como alternativa à pressão excessiva sobre os grandes centros urbanos, mas que ainda não tem uma ligação, apesar de integrar a Área Metropolitana do Porto.
Paradoxalmente, várias empresas continuam a apostar nesta geografia, e Arouca tem hoje em construção um Centro Hípico de âmbito internacional, dos mais modernos do mundo, financiado integralmente por investimento privado. No entanto, faltam ainda cerca de oito quilómetros de estrada que podem comprometer todo este importante investimento na região.
O contraste é revelador: enquanto o país hesita, há quem avance. Talvez por estratégia falhada, talvez por falta dela, somos um país a várias velocidades. Uns esperam por decisões que nunca chegam; outros investem apesar de tudo, muitas vezes não por cálculo, mas por pertença. Porque é a sua terra. E, enquanto o futuro vai sendo construído por teimosia e amor ao lugar, o Estado segue devagar, como se o tempo ainda fosse infinito. Mas não é. Nem pode continuar a ser.

