Os líderes europeus estão a pressionar os EUA e a Rússia a aceitar uma cimeira para discutir a situação da Ucrânia. O Kremlin já fez saber que esse seria um passo prematuro.
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Os russos preferem, neste momento, dar mais tempo ao intenso debate entre os ministros dos Negócios Estrangeiros. Clausewitz, famoso militar prussiano, dizia que a guerra é apenas a continuação da política [externa] por outros meios. Estamos, portanto, a viver o conceito clausewitziano invertido: a diplomacia é a continuação da guerra através da política.
Convém lembrar que esta abordagem internacionalista e belicista do Kremlin, cujo episódio mais grave passou pela ocupação russa da Crimeia em 2014, recua à política do estrangeiro próximo, delineada ainda no tempo do presidente Boris Ieltsin.
Vladimir Putin não é mais do que um ex-espião do KGB profundamente marcado pelo projeto soviético falhado. No entanto, essa hecatombe, inadvertidamente provocada pelo sonhador Gorbachev, não matou o conceito de um euro-asianismo messiânico. Ou seja, a liderança russa atual acredita na reconstrução da órbita de influência soviética por oposição a um universalismo ocidental (europeu e norte-americano) que ameaça descaracterizar os povos eslavos. A eventual adesão da Ucrânia à NATO não só constitui uma ameaça concreta a eventuais ajudas de Moscovo aos separatistas russos de Donbass como também representa a derrota do conceito político identitário de uma certa Eurásia, que aliás explica em grande parte a perenidade de Putin.
Do lado americano, Joe Biden adota um multilateralismo agressivo, o que se traduz num alto envolvimento nas questões internacionais com a apresentação de uma fatura elevada para os parceiros da NATO. "Eu falo grosso, mas vocês pagam forte e feio", parece dizer Biden. O seguidismo sai caro a quem se limita a fazer uns telefonemas e não toma as rédeas de um problema aqui à nossa porta. Washington fica longe.
*Editor-executivo-adjunto