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Poderíamos dizer que num ano de todos os recordes, no que ao turismo diz respeito, a noite de anteontem foi de consagração. Portugal, que já tinha atingido em 2016 o recorde de 14 restaurantes "estrelados" pela bíblia da gastronomia, o guia Michelin, passa agora a ter 21, sendo que 5 deles têm duas estrelas.
Ainda há muito para fazer, até porque não temos nenhum três estrelas, mas o número de galardões dado pela centenária publicação é a melhor prova de que estamos no bom sentido, a crescer não só em quantidade, mas também em qualidade. A matéria-prima é boa, mesmo excelente, mas é preciso constatar que nada disto seria possível sem o profissionalismo de muitos projetos e sem um clima favorável que começa nas escolas de hotelaria e turismo e acaba na pressão exercida pelo aumento da procura turística.
O ano é para nos deslumbrarmos, mas mesmo assim continuam a sentar-se à mesa muitos velhos do Restelo. Sim, as exportações cresceram, mas "parte disso é turismo", desvalorizam alguns, como se este recurso sustentável e renovável fosse um irmão menor da economia. Pois, "abriram montes de restaurantes e hotéis, mas já viste os que fecharam?", interrogam outros, como se entre o deve e o haver o turismo não estivesse a ser responsável por uma enorme revolução em algumas das nossas principais cidades. "Está bem, está bem, mas se os turistas deixam de escolher Portugal, o que acontece?". Sim, seria muito mau, mas o risco é uma variável que está presente em todas as atividades económicas e, a menos que alguma inultrapassável catástrofe sobrevenha, não há nada que não aponte para um aumento global do turismo, com o qual um destino com a segurança e as características do nosso só pode lucrar.
Este recorrente ceticismo é prova de que ainda há muito a fazer para que ao turismo seja dada a importância que tem e, consequentemente, se encarem os desafios que ele encerra. E um dos maiores será, sem dúvida, o de não morrermos devido ao sucesso. Basta olhar para as duas maiores cidades do país para perceber o potencial regenerador que o turismo tem significado mas, simultaneamente, o risco que representa para a diluição da nossa identidade, ou seja, exatamente aquilo que os turistas procuram quando nos visitam.
Sejamos capazes de regular, de planear e de aprender com os que antes de nós já sofreram os mesmos problemas e façamos de 2016 um incentivo para, com os pés no chão, fitarmos o céu e fazermos tudo para sermos um destino três estrelas.
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