A mais recente evolução negativa do emprego em classes socioprofissionais cuja qualificação requer um grande investimento do cidadão e da sociedade coloca, mais uma vez, a questão de saber qual é o papel do Estado nas nossas vidas.
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No último mês de julho, foram 14 714 os professores dos ensinos Secundário e Superior que se viram obrigados a inscrever-se em centros de emprego. Trata-se de um acréscimo de 44 por cento relativamente a julho de 2012, ano em que já se tinha verificado uma duplicação de desempregados entre os professores.
Em segundo lugar do "ranking" dos mais penalizados surgem os quadros superiores da Administração Pública, cujo crescimento de registos em centros de emprego foi de 39,6 por cento nos mesmos meses homólogos comparados.
Trata-se evidentemente do efeito direto dos cortes na despesa do Estado, que, de resto, acompanham a tendência geral resultante de um prolongadíssimo período de recessão, do qual apenas sabemos que terá batido no fundo em resultado de vários indicadores macroeconómicos apresentarem como tendência a interrupção de queda. Alimentando-nos a esperança de que, depois de bater no fundo, estamos a iniciar a subida à tona da água para finalmente podermos navegar.
Nesta espera por novos e melhores tempos, talvez valha a pena refletir sobre a paradoxal situação a que chegamos.
Vejamos o caso dos professores: por um lado, gastamos todos - os formandos, as suas famílias e os restantes portugueses que pagam impostos - fortunas nas suas qualificações; por outro lado, não encontramos utilidade no trabalho de grande parte deles - seja por imposição do défice demográfico ou das contas públicas - e vamos continuar a pagar com os nossos impostos a sua inatividade forçada.
Chegamos aqui por anos a fio de fé na ideia de que haveria sempre empregos para a grande maioria e lucros ou aforros para sustentar aqueles que não tivessem trabalho. Nesses anos de bem-estar social, o Estado serviu essencialmente como entreposto redistribuidor de parte da riqueza e, em honra e sacrifício do primado da iniciativa privada, assistiu impávido e sereno ao deslumbramento de cada um sobre si próprio e os seus desígnios e ambições de vida.
Agora que tantos se agarram à indulgência de que teremos sido vítimas de Estado a mais, o desperdício de investimento financeiro e humano enterrado no desemprego de profissões altamente qualificadas mostra que pode ter havido Estado a menos.
Refiro-me ao Estado orientador. Por exemplo: um ministério da educação que afixasse em todas as escolas, estádios de futebol, autoestradas, transportes públicos a quantidade de profissionais que cada setor de atividade é capaz de absorver.