Não sendo familiar de autarca socialista, próximo de dirigente de IPSS, nem funcionário de pastelaria, confesso que a imagem que tenho do processo de vacinação contra o coronavírus é bastante má. E, peço desculpa, também acho que a incompetência e o desnorte são o padrão da gestão da pandemia.
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Quando a ministra da Saúde foi à televisão chamar "criminoso" a quem ousa criticar o Governo pela falta de planeamento, admito que devia estar a pensar em mim. Na verdade, mais ninguém neste país acha anormal haver centenas de pessoas vacinadas por cunha, favor ou privilégio. Aliás, todos percebem que o presidente da Câmara de Reguengos e da instituição responsável pelo lar onde morreram 18 idosos tenha furado as regras para conseguir para si uma dose anticovid. Como é da mais elementar justiça que dirigentes de misericórdias, administradores hospitalares e afins aldrabem o sistema para fazer incluir a família na lista dos "favorecidos". É de facto criminoso contestar a política de vacinação do INEM, toda ela tão democrática que abrange gestores, assessores, fornecedores, colaboradores externos, funcionários do café da esquina e donos de restaurantes.
Não é altura de fazer contas e exigir responsabilidades? Não é. Mas é bom tomarmos nota, desde já, de quem contribui para o desvario em que a vacinação se tornou - não consigo chamar "plano" ao que está a acontecer. O estado em que vivemos não é só de emergência, é um estado de salve-se quem puder. E ainda temos o técnico incumbido de gerir o processo, arrogante e ressabiado, a ter o desplante de vir insultar meio milhão de portugueses que teve a ousadia, pasme-se, de não votar na candidata presidencial apoiada pelo senhor.
Com governantes e gestores à deriva, temos mesmo que exigir responsabilidade. Não apenas pelo castigo dos incapazes, antes pela esperança que a noção de escrutínio os faça ter decência, retidão e sensatez. Marta Temido chama criminoso a quem critica? Então eu, criminoso, me confesso.
*Empresário e Pres. Ass. Comercial do Porto