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1. Ao final da tarde de ontem, fiz um prognóstico: a Comissão Europeia não vai aplicar qualquer multa a Portugal, mas, em contrapartida, vai mandar apertar o cinto. Alguém me alertou para o facto de estar a fazer uma previsão quando a decisão já fora anunciada, mas não me pareceu que fosse uma boa razão para começar o texto de outra forma. Os jornalistas também têm direito a fazer prognósticos no fim do jogo, sendo que o leitor fica a ganhar, porque são certeiros. É um pouco como aquela história do Éder marcar o golo que daria a Portugal o título de campeão europeu de futebol. Nos segundos, minutos, horas e dias que se seguiram ao final do jogo não houve quase ninguém que não se gabasse de ter feito esse prognóstico. Não há portanto multa, mas, bem vistas as coisas, há sanção. Isto porque os comissários optaram por mandar cobrar mais 450 milhões de euros em impostos ainda este ano (de preferência no IVA). Dá qualquer coisa como 45 euros por cabeça. Uma nota final para o brinde que a Comissão nos atribuiu: se o Governo quiser capitalizar a CGD, pode estar descansado que não entra nas contas do défice. São cinco mil milhões de euros (500 por cabeça)? São. Vamos ter de os pedir emprestados? Vamos. É despesa? É. Mas não é despesa má, como aquela com que se paga as escolas, os hospitais, ou as pensões aos velhos e deficientes. É uma despesa boa, que salva um banco (será que eles começam a salivar sempre que ouvem falar de um banco?) e estimula o mercado, entidades para a qual trabalha aquele senhor português que foi presidente da Comissão.
2. A investigação foi divulgada ontem na edição online do jornal "The Guardian": desde 2012, oito países do Leste europeu e dos Balcãs venderam 1,2 mil milhões de euros em armas e munições para o Médio Oriente, sendo que boa parte dessa sucata (pouco tecnológica, mas letal), que sobrou dos tempos do Pacto de Varsóvia, foi parar às mãos das diferentes fações que combatem na guerra civil Síria, incluindo os assassinos do Estado Islâmico ou os terroristas da Al-Qaeda. Ou seja, há países europeus que, violando todas as regras da decência, mas também a lei, estão a armar os terroristas islâmicos que querem destruir a civilização europeia. Entre esses países estão cinco da União Europeia (Bulgária, Roménia, Croácia, República Checa e Eslováquia), sendo que os dois últimos integram o chamado Grupo de Visegrado, que se tem distinguido pela xenofobia e pelo combate à política de acolhimento de refugiados. Percebe-se agora porquê. Além de serem racistas, sabem bem que armas lhes andaram a pôr nas mãos. Vou fazer mais um prognóstico, desta vez antes do fim do jogo: a Comissão Europeia não vai aplicar nenhuma multa. Aliás, é bem capaz de elogiar a fórmula de aumentar as exportações e combater o défice.
*EDITOR-EXECUTIVO