Corpo do artigo
Há 127 anos, nascia o Jornal de Notícias, antecipando-se em 10 dias ao nosso maior poeta do século XX, Fernando Pessoa. Era sábado, 2 de junho de 1888, Maria Pia reinava em Portugal, a República haveria de esperar mais 22 anos, o futebol ainda não tinha chegado.
O nome de José Diogo Arroio encimava a primeira página, como diretor. E depois dele, aí está um património de que poucos se podem orgulhar: é o valor da marca e da sua história que atravessa já três séculos, guerras e revoluções, centenas de governos, enfim, o legado de cinco gerações de grandes jornalistas, fiéis à sua e nossa terra, à região e ao país.
São os laços de confiança e de credibilidade na relação com os nossos leitores que fazem do JN um grande jornal nacional, orgulhoso da sua pronúncia do Norte, mas comprometido com os mais diversos cantos e acentos em toda a geografia da língua portuguesa.
"Cada qual procura-se onde se sente perdido. Eu perdi-me em Portugal, e procuro-me nele", dizia o nosso Torga, a dar-nos o mote.
Hoje, em vésperas de mais um ciclo eleitoral, a democracia portuguesa vive um dos mais deprimidos períodos da sua história de quatro décadas.
Muitos de nós sonharam anos a fio com a Europa, esse atalho para todas as virtudes, uma espécie de palavra-passe para a liberdade, o desenvolvimento e a cultura. Assim como para o Estado social: o bem-estar, a segurança, a saúde e a educação.
Mas depois de se ter aproximado da Europa, Portugal afasta-se. A esperança transformou-se em dívida. A economia não cumpre, o Estado social mostra fragilidades. A política fraqueja, a dependência do exterior e dos credores é de rigor. A emigração recomeçou em força, o desemprego é agora o espetro que espreita as famílias.
Portugal parece perdido, os portugueses vivem na incerteza. Questionam-se princípios constitucionais, o papel e a dimensão do Estado, o sistema político e eleitoral, e as soluções para problemas estruturais que comprometem o futuro das próximas gerações.
À crise portuguesa juntam-se os embaraços inerentes à nossa inserção numa União Europeia tolhida pelas dificuldades do embate com a globalização, no novo contexto gerado pela introdução da moeda única, pela integração de novos estados-membros, e pela crise das dívidas soberanas.
Eis o pano de fundo deste aniversário do JN e da grande conferência que hoje organizamos na Casa da Música, no Porto, para a qual convocamos os portugueses à reflexão sobre os seus próprios destinos.