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Das eleições europeias saíram dois vencedores: o PPE, o grupo que reúne o maior número de deputados (dando algum conforto à eleição de Ursula von der Leyen); e a vitória das forças de extrema-direita, com Marine Le Pen a comandar o grupo Identidade e Democracia e Giorgia Meloni com forte influência nos europeus Conservadores e Reformistas (provocando instabilidades de vária ordem, inclusive na eleição do/a presidente da Comissão Europeia). É de grande turbulência o ambiente em território europeu, sobretudo em França com inesperadas eleições legislativas marcadas para 30 de junho e 7 de julho.
No rescaldo dos resultados do passado fim de semana, é imperioso assumir que a vitória dos partidos de extrema-direita em vários países europeus decorreu de escolhas de eleitores desiludidos com os seus governos e com um modelo económico completamente falido, sobretudo de jovens que, embora não apoiem boa parte da agenda política dessas forças partidárias, são atraídos por uma comunicação digital fortemente pensada em função dos seus consumos de informação. Como se escrevia ontem na revista “The New Statesman”, “a extrema-direita ainda está longe de governar a UE, mas a força do seu apoio é a métrica do descontentamento que persistirá nos próximos anos”. E que se faz sentir já em vários domínios: imigração, identidade segurança, políticas verdes, economia...
Nesse desequilíbrio que se procura gerir com diferentes estratégias, eis que surge uma decisão que originou um verdadeiro sismo em França: Macron resolveu dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas. Os média internacionais são unânimes em garantir que tal opção implica “brincar com o fogo”, porque o risco de a União Nacional sair vitoriosa destas eleições é bem real. “L’Express” fala num gesto suicidário e a revista L’OBS designa o presidente francês como um bombeiro pirómano.
Neste contexto de grande desassossego, outra eleição que suscita inquietações é a da presidência da Comissão Europeia. Os votos são secretos e aí tudo pode acontecer. Pelos corredores, vão sendo apontados os nomes de Mario Draghi e de Roberta Metsola como alternativas. Todavia, convém não desvalorizar as conversações de bastidores que, por esta altura, Ursula von der Leyen estará a desenvolver. Esta mulher, que todos reconhecem ser mais tática do que uma intelectual, não deixará por certo pontas soltas, mas há aqui um xadrez que se revela bem mais complexo agora: qualquer aliança é hoje muito sensível e pode suscitar anticorpos fatais. E isso pode determinar tudo.