<p>As previsões do Fundo Monetário Internacional relativamente ao crescimento económico mundial para 2011 merecem uma profunda meditação. Em 2011, a economia global, que crescerá 4,8 por cento este ano, crescerá cerca de 4,6 por cento. Os Estados Unidos da América, a antiga locomotiva da economia planetária, ficará nuns insípidos 2,3 por cento; a Alemanha, a França e o Japão, velhos catalisadores da prosperidade da segunda metade do século passado, crescerão, respectivamente, 2 por cento, 1,6 e 1,5 por cento.</p>
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Em contrapartida, embora sujeitas a um relativo arrefecimento, as chamadas economias emergentes terão uma expansão média de 6,4 por cento em 2011, contra os 7,5 por cento deste ano. Falamos da Coreia do Sul, Singapura, Malásia, Indonésia e, obviamente, da Rússia, China, índia, Brasil, entre outros.
A China continuará a liderar este ranking, com um crescimento de 9,6 por cento, seguida da Índia, com 8,4 por cento. Já preocupante é a evolução brasileira, que cai duns espantosos 7,5 por cento este ano para 4,1 por cento em 2011!
O que se extrai da leitura destes números, mesmo para quem, como eu próprio, considera que deveriam passar a ser outros os indicadores aferidores da evolução da riqueza, é muito agitador das consciências.
A riqueza mundial está a crescer, na generalidade, à custa das "democracias musculadas", das democracias mitigadas e muito condicionadas em termos do exercício das liberdades e da alternância partidária.
Os berços da trilogia da liberdade, fraternidade e solidariedade patinam mergulhados em escândalos, convulsões sociais, envelhecimento populacional e decrepitude. Com a Europa à cabeça, logo seguida dos Estados Unidos da América.
Será isto uma coincidência circunstancial? É claro que não. Os ditos países emergentes são jovens e não são nada "preconceituosos" em termos de direitos humanos, ambientais ou sociais.
Entre uma tomada de decisão e a sua execução, não existem corporações, sindicatos, Comunicação Social vigilante ou movimentos grevistas. Existe uma lógica de instantaneidade nos resultados das suas opções, nomeadamente em termos de economia.
Neste contexto, o Ocidente, principalmente a Europa, está a tornar-se num continente de "velhos", num continente de consumidores, num espaço museológico a caminho do abismo.
Esta constatação deve empurrar-nos para um regresso ao totalitarismo bicolor e/ou à liquidação do Estado social? Nem pensar. Democracia e coesão social são a matriz afirmativa da identidade europeia, da sua superioridade. Mas a verdade é que resta muito pouco tempo para a salvar.
A Europa precisa de aprofundar o federalismo responsável, ter um rosto a quem se pedem contas, uma única política económica e social, um desígnio. A Europa não pode continuar a capitular perante multinacionais sem pátria, nem ser permissiva com outros estados que as albergam ao abrigo de regras tão desiguais.
Temos meia dúzia de anos para dar a volta a esta lógica desoladora, sob pena de um de nós vir a mimetizar Denzel Washington no Livro de Eli. Ter de pegar numa Bíblia para transmitir ao futuro a imagem de uma vida em que houve esperança e fé.