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No passado dia 14 de setembro fui assistir no auditório da Biblioteca de Bodo, na Noruega, ao espetáculo de encerramento da programação de eventos de Bodo Capital Europeia da Cultura 2024.
Assumindo os bons princípios do humanismo, da solidariedade e da democracia inclusiva da Europa, e embora não sendo um país da União Europeia, a Noruega assume os mesmos valores capitais que a todos nós europeus muito nos agradam, assim como a muitos outros cidadãos nascidos por todo o Mundo que assumem a Europa como um espaço acolhedor para as suas vidas.
Sendo um espetáculo de grande qualidade artística, não pude receber bem, no quadro dos valores acima referidos, a mensagem política implícita e explícita no referido evento, uma crítica facciosa às democracias ocidentais, à Europa.
Um conjunto de artistas representantes da Palestina, do Irão, do Afeganistão, do Norte de África, entre outros, na ambiência de belas músicas e coreografias, criticavam o funcionamento do regime político das terras onde decidiram viver, a democracia, exaltavam de forma crítica as suas imperfeições, usavam a arte para pintar de negro vários aspetos dos países que os acolhem.
Sabendo todos que nenhum país da Europa, ou de outros onde a democracia vai acontecendo, como os Estados Unidos da América, têm um regime político perfeito, a questão que coloco no cerne da minha reação é a pertinência do contributo que todos e cada um de nós deve dar para que as nossas democracias, onde livremente escolhemos viver, sejam melhores.
A essa vivência temos de somar a reflexão das suas virtuosidades e defeitos, face a face e em análise comparativa com outros regimes políticos em que a democracia e a liberdade não têm lugar, em que o desenvolvimento económico é só para muito poucos, em que as mulheres têm direitos muito limitados e tratamento indigno de um ser humano, entre muitas outras violações dos direitos humanos que jamais admitimos nas democracias ocidentais.
A questão adicional que quero evidenciar tem a ver com o comportamento dos cidadãos estrangeiros que acolhemos em Portugal e nos países europeus e ocidentais democratas, que em elevado número fogem de regimes políticos que atentam contra a sua liberdade e muitas vezes contra a sua própria vida, onde não conseguem estruturar uma vida digna assente no rendimento do trabalho, e que optam por viver connosco os seus novos projetos de vida, devendo praticar o agradecimento antes da crítica, o ativismo social pelo trabalho e pela boa integração cívica, cultural e laboral antes da revolta contra o que está errado e imperfeito.
Nunca pode ser pelo incendiarismo protestante, usando o palco da cultura, um contentor do lixo, um autocarro de todos ou os carros de tantos indivíduos que trabalham dia a dia para os ter, que contestamos o que está errado ou o eventual erro grave que alguém possa ter praticado a cuidar da lei e da ordem em nome de todos e da comunidade.
E viva Portugal e todas as pessoas que o querem ter como sua terra e lar num qualquer tempo da sua vida, vivendo em mútuo respeito pelos bons valores da vida.