A Laura Ferreira dos Santos deixou-me entrar em sua casa para falar de morte.
Filósofa, foi pioneira pelo direito a morrer com dignidade - esqueçam o resto dos rótulos -, morrer com dignidade era esta a sua luta. Defendia que o Estado não poderia obrigar ninguém a viver, sob certas condições, nem atirar ninguém para uma morte violenta. Por cá, a legislação aprovada será para casos altamente excecionais. Uma realidade diferente da do Canadá, com regras bem mais permissivas, que tem sido usada para acicatar almas inquietas. A Laura deu um grande contributo para uma discussão esclarecida sobre o direito a morrer, sem nunca colocar em causa ser necessário reforçar os cuidados paliativos, sem manipulações sentimentais, sem populismos. Nesta, como em todas as matérias, é só isso que se exige. A manipulação que fique nos bastidores, mas não chegue ao palco.
*Jornalista

