1) Uma multidão acolheu Barack Obama em Berlim. Gente a perder de vista. Duzentos mil, dizem as televisões. Fico sempre fascinado com estas contagens. Num estádio de futebol ou num concerto, sabe-se quantos bilhetes se venderam ou quantas pessoas passaram nas entradas.
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Mas quando não é assim, como se pode ter uma ideia tão certa? Talvez determinando a área ocupada e projectando quantas pessoas cabem por metro quadrado. Não é um exercício muito difícil quando se trata de um discurso e as pessoas estão paradas. Coisa diferente de uma manifestação.
Aqui há tempos houve uma em que se estimavam teriam estado 150 000 pessoas. Fiz umas contas. Se cada fila tivesse vinte e cinco pessoas e estivesse à distância de um passo (cerca de oitenta centímetros) da anterior, isto dava quase cinco quilómetros de comprimento.
Ou seja, uma mancha compacta de gente que se estenderia, no Porto, da Praça da Liberdade ao Estádio do Dragão ou, em Lisboa, de Entrecampos até ao Terreiro do Paço. Como será que polícias, organizadores e comunicação social fazem as contas? Contam um a um?
2) Ainda os números. Não há estudo sectorial (agricultura, turismo, automóvel, têxtil, cultura) que se preze que não avance com uns números sobre a importância da respectiva actividade na economia do país. Sempre significativos. O problema é que ao fim de uns oito estudos, se os somarmos, já atingimos o valor do produto interno bruto! O que resulta de se usarem definições ambíguas, imputando ao sector em causa efeitos que se estendem por uma multiplicidade de actividades.
No caso do Norte, a cultura e as indústrias criativas, já o disse e escrevi, podem vir a ter um papel relevante na reanimação da economia regional. Convém, contudo, não exagerar nem criar ilusões. O estudo apresentado em Serralves sublinha, e bem, o potencial e as bases de que se parte. Havendo vontade, a recuperação pode passar por aqui. Em parte. Imaginar e propagandear o contrário, pode ser criativo. Mas não presta um bom serviço às ditas indústrias.
3) Aquando do aumento de preço dos combustíveis, ficámos a saber que, em vários sectores de actividade, aqueles tinham um peso muito elevado nos custos de produção. Segundos as declarações dos respectivos empresários às televisões, nunca menos de 50%. Reivindicaram e, nalguns casos, obtiveram benesses. Agora que o preço tem vindo a baixar, será que esses benefícios se transformaram em direitos e, como é costume, mais uma vez se socializaram os custos e privatizaram os proveitos? Ou, será que haverá reversão desses benefícios ou, pelo menos, uma descida de preços? Costuma-se dizer que pela boca morre o peixe. Se a descida de preço dos combustíveis se mantiver, talvez seja chegada a altura de cobrar algumas declarações exageradas.
4) Na China, as potenciais ginastas começam a ser seleccionadas aos três anos. Seguem um treino específico, em escolas próprias. Não inventei, vi e li. O Financial Times fala em vontade de vencer! Pergunto: qual a diferença relativamente ao trabalho infantil ou escravo? A estética? Há produtos manufacturados naquelas condições tão bonitos! Quem se recusa a comprar produtos de trabalho escravo ou infantil por que há-de ver as provas de ginástica feminina? Não acho a pergunta exagerada!