Exclusividade: toda uma realidade por detrás
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Sempre nos foi incutido como símbolo de poder, de status e pertença a “exclusividade”, ou melhor, o acesso a esta. É, assim, mais uma das crenças inquestionáveis que herdamos da sociedade e, como seguidores fiéis, tendemos a aceitá-la sem questionar se, de facto, faz sentido para nós. Mas talvez esteja na hora de repudiarmos esta herança e refletirmos que, no final, não é a “exclusividade” que nos serve, mas somos nós que a servimos.
Realmente, o facto de esta satisfazer a nossa ambição e desejo de poder e status leva-nos a percecioná-la erradamente. Com estas “recompensas”, acabamos por ignorar que a “exclusividade”, por si só, não existe, dependendo de quem consome esta ideia para ser validada e definitiva. Afinal, o que seria da “exclusividade” sem aqueles que a procuram?
Importa, contudo, salientar que embora sejamos nós a alimentá-la, não fomos nós que a criámos. Este poder pertence às entidades que moldam o conceito desde a origem - por exemplo, as empresas. De facto, através do mecanismo da “exclusividade”, exploram as vulnerabilidades humanas, como a necessidade de validação social, promovendo um ciclo autossustentável: os consumidores respondem à “exclusividade”, alimentam a ideia e mantêm-na viva. O resultado? O consumo deixa de ser guiado pela utilidade ou necessidade e passa a estar, cada vez mais, ligado ao desejo do status, pertença e poder.
Este mecanismo leva-nos a refletir sobre um paradoxo do controlo. Se, por um lado, o consumidor parece estar no controlo, ao validá-la, por outro, são as empresas que realmente a moldam - determinando “o que” e “quem” é exclusivo.
Porém, a “exclusividade” não se limita ao consumo, tendo, também, o seu efeito na política. Um exemplo disso é o slogan “MAGA - Make America Great Again” de Donald Trump. Este criou uma identidade política exclusiva que apela ao status e ao sentimento de pertença. De facto, muito do seu discurso reforça uma distinção clara entre o “clube MAGA”, indivíduos dotados da capacidade de recuperar a grandeza da América e os “outros”.
Assim, a exclusividade é vendida como um privilégio, um acesso restrito ao poder e ao status. Mas será que não passa de uma ilusão cuidadosamente construída?
Enquanto nos deixarmos guiar por essa promessa, continuaremos a alimentar um jogo onde não ditamos as regras. Talvez esteja na hora de invertermos os papéis e deixarmos de servir a “exclusividade” para, finalmente, questionarmos o que realmente nos serve.