A imagem de um Portugal tacanho e taciturno faz hoje parte de um passado não tão distante assim. Por entre a panóplia de erros grosseiros cometidos na gestão dos dinheiros públicos - e de consequências à vista de todos - as últimas décadas estão marcadas por uma capacidade empreendedora da qual resultou uma nova imagem do país.
Corpo do artigo
O reconhecimento internacional de um Portugal moderno, de vistas largas, fica a dever-se em muito à ousadia colocada na candidatura a eventos de grande dimensão e poder mediático e para os quais houve capacidade de iniciativa.
São quatro as indiscutíveis bases da amostragem da recente modernidade portuguesa ao Mundo. A Expo'98, o Euro'2004, Porto Capital Europeia da Cultura'2001 e Guimarães Capital Europeia da Cultura'2012.
Faz parte do mandamento dos críticos usar a fórmula básica para a tentativa de convencimento dos mais incautos: gastaram-se milhões de milhões, e a consonância entre a planificação e a sustentabilidade dos projectos fica muito a desejar, argumentam. A existência ainda hoje de um pesado caderno de encargos no âmbito da Expo é um exemplo agitado pelos detractores. Outro, ainda mais eloquente, é o do modo como alguns dos estádios utilizados para o Europeu de futebol asfixiaram em serviço de dívida clubes e autarquias - o de Leiria está em hasta pública, o do Algarve é usado quando o rei faz anos, o de Aveiro está às moscas, o do Boavista serviu para o clube definhar e o...
Tais repercussões negativas são, apesar de tudo, uma fórmula demasiado linear de abordagem. Além de não ser facilmente contabilizável o eco internacional das iniciativas e a capacidade de atracção (duradoura) nos mercados do turismo, existem benefícios decorrentes do cumprimento de cadernos de encargos exigentes. Mais do que a devolução de parte substancial da zona ribeirinha do Tejo a Lisboa, a Expo'98 permitiu requalificar uma zona até então execrável. Graças ao Euro'2004 mudou significativamente a vivência de várias cidades, ofertando-se novas acessibilidades a par da concomitante atracção decorrente da requalificação urbana. Sem a organização do Euro'2004 as cidades de Leiria, Braga, Coimbra, Aveiro, Faro, Loulé, Lisboa, Porto e Guimarães seriam hoje mais atávicas; dificilmente teriam saído de uma cepa torta só rompida por mero bambúrrio. No caso do Porto e de Guimarães com uma dupla ousadia bem sucedida: juntaram à condição de anfitriãs do Europeu de futebol o título de Capital Europeia da Cultura e dele retiraram incomensuráveis benefícios. 2001 foi marcante para a existência de uma nova Cidade Invicta uma década depois e Guimarães já beneficia do evento agendado para 2012.
Até contabilístico, o balanço das grandes iniciativas aconselha prudência.
O país atravessa tempos complexos e é fácil manejar críticas, apontando-as a tudo e todos. O passado, obviamente, está marcado por erros imperdoáveis de gestão. Insustentável, ainda assim, é preconizar o imobilismo total. Se assim fosse o país deste final de 2011 viveria ainda a fase em que, de tanta pobreza, os portugueses dirigiam-se ao alfaiate para virar o casaco. Há quem se lembre...