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Na Flórida, a diretora de uma escola pública foi forçada a renunciar ao cargo após a reclamação do pai de um aluno do 6.º ano. O pai alegou a exposição do seu descendente a pornografia, no seguimento de uma aula sobre arte renascentista que incluía a nudez de uma das esculturas mais famosas, David de Michelangelo. Outros dois pais pediram para serem avisados sobre os conteúdos das aulas, antecipando os que poderiam ser potencialmente controversos.
A escola deve provocar o espírito crítico e a reflexão. Ao invés de abolir a estátua, por que não debatê-la? Estes são os pais que provavelmente receiam que a escola fale de educação sexual, como se receio houvesse do papel da escola nos estados democráticos.
A par, temos a nova saga wokista da reescrita dos livros, como os de Agatha Christie, ou da retirada de livros das bibliotecas por terem linguagem datada, como os de Enid Blyton e tantos outros. Um movimento sem sentido.
Fica o alerta para esta nova suposta "censura do bem", protagonizada por polos opostos do pensamento ideológico. Em comum, têm a expressão máxima dos extremismos. Estes exemplos são importados, mas rapidamente terão residência em Portugal. As sementes destes extremismos estão lançadas ao solo, infelizmente.
As obras de arte refletem a época e a sociedade em que os músicos, poetas, escultores e pintores viveram. A arte deve estimular o pensamento, a ampliação de horizontes, a crítica construtiva e a interpretação e a compreensão da sociedade num tempo e num contexto.
A deriva ideológica de pais, agentes políticos ou lobbies instalados não podem impedir-nos de distinguir o certo e o errado. Aprender a pensar é o verdadeiro valor da educação.
* Presidente da Federação Académica do Porto