Há muitos anos que os extremos entraram em desuso no futebol. As correrias de Futre, que trocava as voltas aos defesas, ia à linha e cruzava já quase só se vêem na RTP-Memória.
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Perderam o estatuto de chave do sucesso no negócio futebolístico. Eu, na minha boa-fé, supunha que os extremos tinham mesmo sido extintos, agora que a virtude está cada vez mais no meio e devemos ser todos moderados. Enganei-me: Jaime Silva descobriu os poucos que restarão infiltrados em organizações agrícolas - uns extremos de Direita, outros extremos de Esquerda, numa democrática distribuição.
Até Mário Soares, mais velho e, por força da idade, presumivelmente mais sensato, advogou em tempos a tese do diálogo com terroristas, como forma de combater o fenómeno. O ministro da Agricultura - já se sabe, foram as televisões que arrancaram do contexto as suas inocentes declarações sobre os dirigentes da CAP e da CNA - nem com extremistas se senta à mesa. Não é embirração; é porque não tem nada para lhes oferecer. Pois se clama que a crise quando nasce é para todos, que é injusto que uns paguem pelos outros, resta-lhe recomendar: aguentem-se, até que o temporal amaine. Até que o preço dos combustíveis caia, talvez lá para o ano 2050, se as petrolíferas cederem a um gesto de boa vontade.
Jaime Silva sabe ocupar o seu lugar. Quando o preço dos alimentos disparou, accionando todos os alarmes, só se lhe ouviram palavras tranquilizadoras. "Ainda vai subir mais", constatou então, de braços cruzados perante o intocável mercado, do qual ele nem gestor ambiciona ser. Um ministro italiano do Governo de Berlusconi percebeu que poderia fazer alguma coisa para travar a galopante ascensão dos preços do petróleo. A taxa "Robin dos Bosques", aplicada aos lucros das petrolíferas com o objectivo de recolher fundos para projectos sociais, seria por certo considerada uma infâmia por Jaime Silva. Onde é que já se viu roubar aos ricos para dar aos pobres?
Na Itália, a taxa já está em vigor. Em Portugal, permanece "em estudo", segundo José Sócrates. Compreende-se: Berlusconi é um extremista encartado, a avaliar pelo braço em riste, a saudação nazi, que alguns dos seus apoiantes gostam de exibir. Já Sócrates é dirigente máximo do Partido Socialista, por definição uma pessoa com "preocupações sociais". Pode é não ter tanta margem de manobra. É que, de acordo com o mais recente relatório sobre a riqueza mundial, o número de portugueses cujo património ultrapassa o milhão de euros só subiu, em 2007, de 11400 para 11600. Uma miséria! Eis uma área a pedir urgente intervenção do Governo. Com o prévio escrutínio de Jaime Silva, claro, não vá tratar-se de perigosos extremistas.