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Com o surgimento de uma global polarização política e de um extremismo ideológico no espaço de debate público, assistimos a uma generalizada intransigência e rejeição relativa à diversidade de opinião, a qual, conforme a posição, numa espécie de preto ou branco, sem se admitir qualquer tom acinzentado, coloca as posições divergentes imediatamente num desses polos.
Por isso, por essa intolerância à opinião contrária, abordar o tema da segurança e a sua inerente sensação passaram a ser temas de uma só verdade. Esses polos extremados são definidos consoante defendemos que Portugal é, ou não é, um país seguro.
Sustentar que continuamos a viver num dos países mais seguros do Mundo e que a sua criminalidade não tem aumentado em grau significativo, exclusivamente com base em estatísticas, num país que já não consegue responder à questão básica de quantos somos, pode ser arriscado e legitimador da intranquilidade de quem pensa o oposto.
Sustentar o contrário - que vivemos num período de crescimento dos níveis de insegurança, apenas pelo que resulta do debate político e pelo projetado e prolongado nos noticiários e debates relativos a episódios criminais --, pode igualmente induzir ao erro.
Porventura, considerar as duas posições, analisando-as na devida dimensão, para além de contribuir para a defesa da democracia, certamente privilegiará a segurança, que apenas será efetiva se for real, percecionada e sentida em igual grau de dimensão.
Extremar posições e politizar a qualificação do nosso nível de segurança é demasiado perigoso e irresponsável. O mais sensato será considerar que ainda somos um país seguro, com sinais muito preocupantes que fazem perigar essa posição.