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A Europa vai ter de ser mais Europa no que respeita à sua união bancária porque as bolsas persistem em cair e os juros não param de subir quando os países são obrigados a colocar dívida. A verdade é que os mercados já não acreditam em panaceias que falharam na tentativa de confinar a crise financeira, agora que está consumado o contágio pandémico com tendências recessivas fortíssimas, seja na produção e no consumo, seja no emprego como está a acontecer com o motor europeu e talvez esteja na origem de uma aparente abertura da senhora Merkel.
Veremos...
A Europa que temos já não serve ninguém. E os políticos ficam literalmente à rasca perante perguntas de bom senso e irredutível bondade social. Por exemplo: quando há prejuízos nas empresas, quem paga são os acionistas, então por que carga de água hão de os estados arcar com os prejuízos dos bancos falidos?
A resposta clássica era: pois, mas deixar falir os bancos é colocar em causa o próprio sistema. Foi isso que ouvimos repetidamente para justificar a nacionalização do BPN.
Até os mais liberais ficaram por uns tempos sossegados numa espécie de sonambulismo, apenas interrompido, no início do pecado original, ou seja, a falência do Lehman Brothers, por alguns gritos de deixa falir, outros nascerão."
É, de resto, muito curioso que dos EUA, onde tudo isto começou, partem agora duras críticas à ausência de uma Europa forte e coesa.
Para quê?
Para travar a pandemia.
Ora, para que o Mundo não fique nas mãos dos liberais radicais, tipo mata-mata, a Europa tem de fazer o seu trabalho, abdicando dos calculismos nacionalistas que têm marcado estes anos de crise, como se fosse possível que uns acabassem por ficar melhor à custa do empobrecimento de outros. Uma Europa a duas ou três velocidades seria escancarar as portas do nosso continente a influências de outros blocos económicos, políticos e até religiosos num processo cujo grande risco seria perdermos o modelo que nos fez liderantes e assenta na possibilidade de continuarmos a produzir riqueza em quantidade suficiente para a podermos repartir ao ponto de não termos nem fome, nem pobreza endémicas.
Por isso, é tão decisivo que nesta reunião dos 27 sejam acionados os mecanismos de financiamento das economias com os 130 mil milhões de euros prometidos e estabelecidos os termos de uma real união bancária. Mas será necessário mais, e o Parlamento Europeu já teve lucidez de aprovar um fundo em que os países possam parquear o que das suas dívidas for além dos 60% do PIB. Significará que as dívidas soberanas deixarão de estar sujeitas a fundos especulativos. E com esta estratégia, assente numa verdadeira união bancária, a especulação sobre as falências dos nossos países reduzir-se-á a zero. Ou quase.
Portanto: agradecemos que os chefes de Estado europeus façam o que têm de fazer.