O racismo é um monstro de inúmeras faces. A própria afirmação "Eu não sou racista" contém muitas vezes em si a estirpe paternalista do imundo vírus. Jorge de Sena contava, a propósito, o que, chegado ao Brasil, ouviu de uma senhora da alta sociedade brasileira: "Aqui no Brasil não há racismo. E sabe porquê? Porque, aqui, o preto sabe pôr-se no seu lugar". Mas o racismo não raro contamina as próprias vítimas, tornando-as também em algozes. O mais inquietante exemplo é talvez aquilo que Steiner chama o "ódio de si", ou "autoproscrição", do judeu, que explicaria o desconcertante anti-semitismo ou rejeição do próprio judaísmo que, desde Paulo de Tarso, é notório em numerosos intelectuais judeus (mais perto de nós, alguns houve que chegaram a aprovar Hitler). Que sentir senão repugnância com uma resposta que o presidente da Câmara de Torres Vedras, cigano, deu ao "Expresso" a propósito da expulsão de França de ciganos romenos e búlgaros: "Os ciganos portugueses vêem com apreensão a chegada dos 'novos ciganos'. Sentem que os seus comportamentos desviantes ou bizarros podem pôr em causa a integração"?
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