Corpo do artigo
Há uma falha inequívoca do país na integração e regularização de imigrantes. Foi em cima dela, à mistura com muita desinformação, que a extrema-direita potenciou uma das suas principais bandeiras e fez crescer reações xenófobas e ressentidas contra os estrangeiros. O PSD assumiu o tema na expectativa de esvaziar a agenda do Chega, mas só o tempo dirá se não está, pelo contrário, a oferecer-lhe ganhos políticos e a pagar um preço que não é explicado com clareza aos eleitores.
Questionado insistentemente sobre o alegado acordo para vir a regular uma obrigação de cinco anos de descontos para a Segurança Social, antes de os imigrantes poderem aceder a apoios sociais, o primeiro-ministro foi evasivo nas declarações. Não só evitou respostas como questionou os critérios das perguntas, acusando os jornalistas de se preocuparem com "questões laterais" e de andarem "sempre à procura de desviar-nos do essencial".
Luís Montenegro tem o direito, como ele próprio sublinhou, de decidir o que quer dizer ao país. Mas tem igualmente o dever de transparência sobre compromissos assumidos nas negociações políticas. Num momento em que o Chega continua a crescer e em que as eleições autárquicas se revelam de particular relevância, o PSD mantém a lógica de diálogo com "todos", ignorando as posições antidemocráticas e o discurso de ódio do partido de André Ventura. Taticamente, é bem provável que cometa um erro e acabe esmagado pelo partido a quem oferece a normalização. Esse será um problema do PSD. Para o país sobra o problema maior de ver crescer a extrema-direita sem combate nem bloqueio.