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1. Mário Centeno, antigo ministro socialista das Finanças, agora governador do Banco de Portugal (com assento no Banco Central Europeu), deixou o aviso, perante as notícias de que o Estado poderá abrir mão de umas centenas de milhões de euros de receitas, dessa forma aliviando o garrote das famílias com as faturas da luz e do gás, da bomba de gasolina ou do supermercado: é preciso "paciência com a inflação", diz Centeno, assegurando que, no médio prazo, descerá para 2% (em agosto chegou aos 9%). Problema: as contas são para pagar agora, não no médio prazo. O Ronaldo das Finanças (dizem os alemães) também quer prudência nas medidas de apoio, rejeitando exuberâncias quando a economia cresce, o desemprego está em mínimos e os salários sobem 4%. Argumenta com dados macroeconómicos, que são verdadeiros. O problema é que as pessoas vivem na microeconomia. Por exemplo, os quase três milhões de trabalhadores por conta de outrem cujo salário é inferior a mil euros e que foi engolido pelo custo de vida. Centeno transformou-se num "falcão" da economia. Se é que alguma vez foi uma "pomba".
2. Quem já não se encolhe perante os dados macroeconómicos, como acontecia no passado, é o PSD liderado por Luís Montenegro. Numa jogada política astuta antecipou-se ao que poderá sair do Conselho de Ministros Extraordinário e ampliou a sua potente proposta de medidas de emergência: descer o IVA da energia (eletricidade, gás e combustíveis) para 6% durante seis meses; um vale de 40 euros para todos os pensionistas que recebem até 1097 euros; e a redução dos três escalões intermédios do IRS. O argumento é simples: há margem orçamental, uma vez que a receita fiscal está dois mil milhões de euros acima do previsto (e cinco mil milhões acima do ano passado). António Costa tanto quis esperar, que os sociais-democratas são agora as "pombas", e os "falcões" da austeridade os socialistas. Pelo menos até segunda-feira.
*Diretor-adjunto