Falsas sensações de segurança
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Desta vez, não abriu telejornais, nem mereceu grandes manchetes. O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024 não só não foi um tema quente no comentário politico-mediático, como até se registaram algumas notas discretas de satisfação porque os “números” em Lisboa não eram assim tão graves e não batiam certo com as “perceções”.
Infelizmente, estamos muito longe de poder cantar vitória sobre esta matéria. E, felizmente, o país não é só a capital, havendo razões de sobra para preocupação em várias geografias, mas particularmente na região do Porto – tal como apontei no ano passado, em diversos fóruns, e especialmente neste espaço de opinião.
À semelhança de Lisboa, também no distrito portuense se registou um decréscimo na criminalidade geral (0,9%), de acordo com o último RASI. No entanto, os fatores positivos inscritos no relatório ficam-se mais ou menos por aí, já que tudo o resto aponta para um agravamento da realidade com que se depara a população local. Em especial, a criminalidade violenta e grave que cresceu 4,8% e registou o valor mais elevado na região, desde 2016.
Ao percebermos a composição e a prevalência destes crimes, surgem motivos adicionais de apreensão. Por exemplo, verifica-se que, em 2024, houve mais 50 roubos na via pública do que no ano anterior ou que o mesmo delito cometido em edifícios comerciais e industriais cresceu 36%. Em todas as principais categorias de crime grave e violento citadas pelas autoridades, só uma – a coação ou resistência sobre funcionário – teve menos episódios reportados face a 2023. Para não esquecer, do agravamento dos casos de violência doméstica, da grande incidência de apreensões de heroína no Porto ou do número de furtos cometidos por carteiristas, que aumentou 30%.
Tudo isto é real, afeta a vida das pessoas e dispensa cálculos políticos. Se o problema existe, não é com meias tintas que se vai dissipar, nem com discursos redondos que só fazem do “país seguro” um mero slogan sem fundamento. No caso do Porto e por força dos dados disponíveis, a urgência de intervir é grande e o tema deve permanecer no centro do debate local. Em ano de autárquicas, fica o desafio para que os protagonistas digam ao que vêm sobre esta matéria.