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Já sabíamos que a PT injetou no BES qualquer coisa como 900 milhões de euros. Já sabíamos que o dinheiro emprestado pelo grupo de telecomunicações se esfumou entre os escombros da falência do grupo financeiro. Já sabíamos que, por causa disso, se acelerou o processo de desagregação da que chegou a ser uma das mais importantes, porventura a mais importante, empresa portuguesa. Mas, nos últimos dias, também ficámos a saber que ninguém se sente responsável por essa assinalável destruição de riqueza. A culpa, como sempre, morre solteira.
Primeiro, foi Zeinal Bava, o homem que acumulou prémios e honrarias "no Mundo e arredores", a dar de si uma triste imagem. O "supergestor" não guarda hoje "nem uma memória" de lhe ter passado pelas mãos qualquer decisão sobre um empréstimo que tinha dimensão suficiente para pôr em causa (como pôs) o futuro da sua empresa: "Em sã consciência, não, eu não sabia". E, para o caso de haver dúvidas, deixou claro que não tinha de saber.
Ontem, foi Henrique Granadeiro, outro gestor de créditos firmados, a participar na sessão de passa-culpas parlamentar. Não porque invocasse falta de memória, como Bava, mas porque tratou de sacudir a água do capote. Admitiu alguma responsabilidade numa decisão inicial (ainda que desculpando-se com o visto bom de quem lidava com as finanças), mas, quanto a saber-se como é que, de 200 milhões, se chegou a uma buraco de 900 milhões, o melhor que os deputados da Comissão de Inquérito Parlamentar têm a fazer é perguntar a "outros".
Acontece que os deputados já perguntaram. Para provavelmente chegarem à conclusão, eles e os portugueses que se dão ao trabalho de acompanhar este estranho circo, que mais do que um problema de falta de memória, do que se trata é mesmo de falta de vergonha.