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Não basta ao presidente da República repetir cheio de gravitas que tudo o que faz tem como objetivo defender o interesse nacional.
Também não chega ouvir prometer que, a cada passo que tome, informará os portugueses. Porque, como vemos, entre cada passo vai meio oceano.
E depois também não chega a justificação de que quer ouvir todos e cada um.
Por partes. O interesse nacional que o senhor presidente da República diz defender é o seu interesse nacional, ou seja, a visão que tem do que será melhor para o país. Mas esta visão só é legítima se bem explicada e bem aceite por todos nós. Ora, em todos os discursos que lhe ouvimos nada mais encontramos do que o apelo à estabilidade e às boas contas. E isso é curto num Mundo tão duro e tão difícil como aquele em que vivemos.
Depois, faz-nos saber que quando der mais um passo se dignará a informar. Não passará pela cabeça do senhor presidente que não queremos que ande, mas que corra, e que o seu poder constitucional não cauciona manobras dilatórias? E fere os ouvidos a resposta sobranceira que nos recorda que também Cavaco Silva, primeiro-ministro, se aguentou em gestão durante alguns meses. É que o dever de resposta tem de ser proporcional, no tempo e no modo, às circunstâncias. Portugal está numa situação muito vulnerável e não pode vegetar em vez de lutar pela sua vida institucional e coletiva.
E, por último, o interesse e o dever de auscultação. Que novidade podem, afinal, trazer os partidos e as insignes personalidades ouvidas e a ouvir que já não tenham sido proclamadas publicamente ou pudicamente transmitidas ao senhor presidente no último mês e meio? Afinal quantas semanas passaram desde que ouviu todos e cada um para indigitar Passos Coelho?
Percebo o valor da prudência e o interesse da experiência (a que muitos chamam matreirice) mas não me revejo num sistema em que as decisões difíceis - sejam quais forem - não são tomadas a tempo com clareza, coragem e inteligência.
Sobretudo quando por detrás está a possibilidade de passar o ónus da decisão a outros que, por sua vez, nada dizem sobre as suas intenções.
É, pura e simplesmente, uma enorme falta de respeito.