Em futebol, como em quase todos os desportos colectivos, é muito fácil ir do 8 ao 80. A beleza do jogo passa também por aí, pelo sortilégio que suplanta a certeza, ultrapassando-a pela esquerda sem falta para vermelho, a sorte e o azar, as dinâmicas que todos tentam explicar, mas que nunca fazem ciência sobre a matéria em que se suporta o profundo êxito ou a maior das calamidades.
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É nessa roda-viva, voraz, que se consomem treinadores no ápice de dois pares de jornadas e se endeusam jogadores previamente assobiados ao desterro. É futebol, dizem. É, sobretudo, a ânsia dos adeptos por mais. No dia em que escrevo, contam-se 70 dias para a Supertaça, o próximo troféu em disputa, mais uma final para somar e ganhar se não formos ao 8 no início da próxima época. Hoje, quando faltam 69 dias e o tempo não passa a correr nem se deita ao contrário, assuma-se o defeso. Não consta que haja férias para adeptos. Nunca mais é dia 31 de Julho.
A Final entregou a "dobradinha" ao Museu e, agora, há que pensar futuro. E não faltam razões para optimismo, se olharmos para a idade, qualidade e margem de progressão de jogadores como Vitinha, Diogo Costa, Fábio Vieira, Evanilson, Francisco Conceição e João Mário. Sérgio Conceição referia-se ao plantel desta época como "o melhor grupo que apanhei". Precisamente. O grupo que acaba a época não é exactamente o mesmo que a começou. Não só porque saíram jogadores nucleares, mas também porque muitos se transformaram para melhor. Taremi, mais goleador e influente nos golos da equipa do que já fora na época passada: 26 golos e 16 assistências em todas as competições, eis um goleador de equipa, como poucos. Pepê está no limite de explodir e faz um brilhante final de época (não me recordo de um sul-americano que se tenha adaptado tão rapidamente ao F. C. Porto). E Otávio, sempre ele (que assistência para o 3.o golo). 69 dias. O "365 Azul" despede-se, até lá. O "Mar Azul" enrola na areia porque se sente feliz.
A festa dentro e fora do relvado, numa final da Taça inédita. O ambiente foi extraordinário e de absoluto fair-play. Conceição consegue a primeira em Oeiras e o "mar azul e branco" mostrou uma onda imparável.
A histórica e incompreensível falta de condições do Jamor. Ao lado da "Cidade do Futebol", continua a ter acessos a pique, de terra batida, entre mato que nem foi cortado.
Adepto do F. C. Porto