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Quando se tratou de pedir dinheiro em 2011, na iminência da bancarrota, o PS bateu à porta do PSD e do CDS para mostrar credibilidade na UE. Agora, quando em causa está pagar a dívida que os socialistas elevaram para um valor recorde de 132% do PIB, António Costa preferiu dar o braço ao BE, apesar da escola feita a par de movimentos batizados com denominações grotescas, escolhidas à escala da demagogia irresponsável - "que se lixe a troika" - do "não pagamos", da defesa da saída de Portugal da Zona Euro e do repúdio do tratado orçamental. Ponderado que mercados nervosos são juros altos, não lembraria a ninguém.
Entre outras coisas, o grupo de trabalho do PS e do BE defende a "mutualização" europeia de 31% da dívida pública nacional, com um impacto que estima a reduziria para 91% do PIB e o alargamento médio das maturidades de 15,6 anos para 60 anos. Basicamente, quer que os outros países paguem 31% do que Portugal deve e propõe que a dívida que os nossos filhos suportariam em média até aos 15 anos, os onere até aos 60 anos.
Convirá recordar que ninguém nos obrigou a pedir dinheiro. Devemos, porque gastamos. E porque fazer contas nunca foi com o PS.
Só por lirismo se achará que países que tiveram juízo e cumpriram estarão dispostos a financiar com os seus impostos, o trágico delírio socrático que entre 2006 e 2011 duplicou a dívida portuguesa, fazendo-a superar 100% do PIB. Só por absurdo se quererá normal que países como a Estónia, a Bulgária e o Luxemburgo, com dívidas abaixo de 31% do PIB, devam suportar 31% das dívidas dos portugueses. E só por ingenuidade se acreditará que algum país aceitará pagar as dívidas alheias, sem que as dívidas próprias sejam igualmente pagas por todos e na mesma proporção.
Ainda que num exercício redutor, só os países com dívidas superiores a 91% do PIB invocassem esta pretensão, 31% do que a Grécia, Itália, Portugal, Chipre, Bélgica, Espanha e França devem, mas todos pagariam, totalizaria a módica quantia de 2 013 600 000 000,00 euro (dois milhões de milhões, treze mil milhões e seiscentos milhões de euros). E se ponderada uma redução até 91% do PIB das respetivas dívidas, que não equitativamente de 31% por país, alcançaríamos um número de 1 519 400 000 000,00 euro (um milhão de milhões, quinhentos e dezanove mil milhões e quatrocentos milhões de euros).
Quer dizer que ao problema da dívida, a Esquerda responde com fantasia. Confessa que no que dependa de si, não resolverá coisa nenhuma. E pede em relação à UE o que nunca terá. Sobrarão a prazo, novamente, o PSD e o CDS para pagar as faturas.
* DEPUTADO EUROPEU