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Entre os milhentos documentos análogos, existentes no Arquivo Histórico Municipal, encontrei este, de 21/6/1890: "Diz José Gomes Marques, morador na R. do Heroísmo, que fazendo parte d’uma Comissão para festejarem a imagem de N. Senhora da Saude erecta na Capela do Heroísmo, pede licença para colocar mastros completos entre as ruas de Sacais e Barros Lima, nestes termos P. a Exma Camara se digne deferir". A petição revela um dos aspectos da tradição portuense: a organização de festividades aos patronos das ruas, largos e vielas de um território de vivências perpetuadas através de gerações.
Estas manifestações do espírito bairrista da vizinhança atingiriam grande expressão (muitas dezenas) nos finais de oitocentos e, em certos lugares, manteve-se ao longo do século XX. Chegaram aos nossos dias uma dúzia, se tanto. O seu desaparecimento representa, por um lado, a morte das comunidades pelo despovoamento dos sítios do viver tripeiro. Por outro lado, deve-se a certa abulia imposta pelos novos modos de habitar e (des)conviver e alguma inércia paroquial, mais preocupada com a teologia do que com a religiosidade popular. (O Padre Jardim é excepção nesta onda de desertificação cívica. À sua conta, "ressuscitou" três festas: Senhora do Ó, S. Nicolau e Senhor da Boa Fortuna.)
Impõe-se, como imperativo das próximas juntas de freguesia, que não abdiquem da defesa do espírito da Invicta, no incentivo das festividades do seu património. Não com curadores e comissários de aviário, mas com gente que assuma as culturas locais como o substracto da persistência da identidade portuense.