Notícias cada vez mais preocupantes vão-se abatendo sobre nós. A retracção da economia será maior do que o esperado. A sua incidência desigual. Geográfica e socialmente. Dependentes do exterior, como não pode deixar de ser numa economia pequena, preocupa-nos o recuo da procura externa e do comércio mundial. Nada podemos fazer para inverter o rumo desses acontecimentos. O que não significa que nos resignemos e nos limitemos a observar e a esperar por tempos melhores. Como se tem vindo a repetir, as crises são oportunidades que não se podem perder. Para, por exemplo, procurar novos mercados. Ou tentar ganhar posição relativa, resistindo mais do que outros, em mercados em que já estamos.
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Países e empresas pequenos têm a vantagem de não precisarem de grandes mercados. Nichos desinteressantes para os grandes, podem-nos servir na perfeição. Um exemplo? Os contactos que a Associação Empresarial de Portugal tem multiplicado com empresários iranianos.
O estado depressivo aprofundar-se-á tanto mais quanto mais nos resignarmos. Melhores tempos hão-de vir. Agora é a altura de nos prepararmos para usufruir da retoma. Resistindo, não abandonando posições à primeira, evoluindo para produtos com um potencial de procura acrescido. Como têm vindo a defender as associações que integram o pólo de competitividade da moda.
O ministério da Economia faz bem em apoiar estas iniciativas e estimulando a postura de quem não se conforma e, em vez de se lamuriar, actua na expectativa do retorno que ocorrerá, mais cedo ou mais tarde. O tempo é, porém, fundamental. Qualquer atraso, hesitação, na disponibilização dos apoios pode comprometer o sucesso da operação.
O tempo é tudo. Neste como noutros casos. O governo tem dito que as medidas essenciais estão tomadas. Tem apenas parte da razão. O teste ácido reside na capacidade de fazer com que os investimentos e despesas anunciados se concretizem.
E não só os grandes investimentos. Conhecidos da opinião pública, arrastam-se há anos. A crise fornece um óptimo álibi para o voluntarismo. "Façam-se. Chega de discussão". Um equívoco! A sua dimensão impõe trâmites complexos e morosos, inultrapassáveis. Mesmo que se avance agora, o seu impacto já não será deste tempo que urge. São os pequenos investimentos que podem ter um efeito disseminado e rápido. Para o que será necessário aliviar a burocracia. Se assim não for, corremos o risco de assistir a um episódio que só não será caricato por ter sido trágico: multiplicarem-se despesas e obras quando a conjuntura as dispensar ou desaconselhar. Na reabilitação urbana, fazer o projecto demora um mês; aprová-lo, seis. Assim não vamos lá! É certo que não pode valer tudo. A pressa não pode encobrir o compadrio, o desmando. As novas tecnologias podem dar uma ajuda. Viabilizando observatórios, geridos por entidades independentes, que registem e divulguem, na Internet, a quem são adjudicadas as obras, por quanto e qual o seu ritmo de execução.
Talvez assim se consiga evitar a esquizofrenia de quem quer menos burocracia, celeridade mas, logo que se anuncia um qualquer procedimento que permita apressar a execução, insinua que pode facilitar a corrupção ou, pecado maior, ter reflexos nas estatísticas...