Uma política abrangente de requalificação urbana é fundamental para o Porto, no sentido de regenerar a cidade e travar o grave êxodo demográfico que se registou nos últimos anos.
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Uma importância que se redobra na relevância do património histórico e arquitetónico da nossa cidade. De Nasoni a Siza, dos edifícios neoclássicos à arquitetura do ferro, há no Porto argumentos de sobra que justificam o cuidado especial com que devemos abraçar a preservação do nosso património. Reabilitar pressupõe, em si mesmo, um processo criativo que permite à cidade reinventar-se e evoluir, mantendo a sua identidade. A estratégia de regeneração urbana tem sido muito bem conduzida com um impacto direto significativo, não apenas na atividade económica local, mas também na perspetiva de formatação da cidade como espaço de cultura, de vivência e de identidade próprias.
Seja no investimento que tem induzido, seja na atividade geograficamente disseminada que tem promovido no tecido empresarial, sobretudo através da fileira da construção, seja no recurso que tem feito a know-how, materiais e tecnologia eminentemente nacionais, seja ainda na dinamização económica que potencia, com a criação imediata de empregos, a revitalização do comércio urbano, do turismo e das atividades ligadas à cultura e ao lazer. A reabilitação tem sido igualmente fundamental para sedimentar as populações autóctones que ainda vivem na cidade e para trazer de volta as que foram obrigadas a sair.
O trabalho desenvolvido pela Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto, criada com base num entendimento claro e expresso da necessidade de investimento público na requalificação dos meios urbanos, tem deixado marcas visíveis na cidade, revelando sobretudo um importante papel multiplicador do investimento privado. Numa década de funcionamento, a sociedade investiu perto de 60 milhões de euros de fundos públicos, e com isso alavancou investimento privado próximo dos 740 milhões de euros, ou seja, cada euro de investimento público na reabilitação urbana induziu um investimento privado de mais de 12 euros.
Reabilitar e repovoar a Baixa do Porto é um processo complexo que demorará, certamente, muitos anos, até atingir a dimensão que todos pretendemos, mas estão a ser dados passos sólidos nesse sentido. Trata-se de um exercício que terá de envolver muitos atores, nomeadamente, o Governo, a Câmara Municipal, os proprietários, os investidores, as empresas, os comerciantes, bem como um sem número de especialistas que operam neste setor.
É inquestionável a dinâmica que se vive hoje na Baixa, aliada a novos e interessantes projetos turísticos no comércio tradicional, na hotelaria, na restauração e na animação noturna, que estão a contrariar gradualmente o processo de desertificação desta zona da cidade.
Em 2014 entraram na Câmara do Porto 649 processos para obras de reabilitação, que recebeu também 891 requerimentos de processos urbanísticos, mais 88% face a 2013. Emitiu 195 alvarás de obra e 60 alvarás de utilização. No total, são 413 apartamentos, 109 novos espaços comerciais e vários hotéis, só o ano passado.
Realçava hoje aqui, ainda, dois exemplos felizes daquilo que falava: a inauguração do projeto "Locomotiva", que reabilitou e devolveu à cidade uma artéria que há muito tinha deixado de usufruir: a Rua da Madeira, e ainda a pujança do eixo Mouzinho/Flores, onde hoje em dia tudo parece acontecer, restaurantes, lojas, hotéis enfim, um mundo de novas oportunidades. A Autarquia, através destes dois exemplos, prova-nos que, séculos depois das fronteiras do concelho devidamente definidas, ainda é possível fazer cidade.
EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO