Já tinha reparado que as montras outono-inverno deste ano tinham soltado o mau gosto. Ou, como dizem os brasileiros, "a feiura está de volta". E não estou a exagerar. Mantas étnicas aos ombros, crocs com plataforma, cores berrantes sobrepostas. Numa imagem, é como ir trabalhar de fato de treino azul-bebé e t-shirt verde-alface e ser invejado pelos colegas.
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O mau gosto passa a ser fashion a partir do momento em que as grandes marcas apostam na transgressão para captar excêntricos. Um edredão da feira de Custoias às costas é uma piroseira se virmos nele um edredão, mas se virmos nele um modelo arrojado de uma reputada estilista que se inspirou no chilrear de uma ave autóctone africana, marcamos uma tendência na nossa rua. Os entendidos garantem que é o streetwear a mergulhar no luxo. Eu contento-me com a ideia de que os criadores de moda só abominam o convencional para poder cobrar preços absurdos. Para os pobres, é pindérico. Para os ricos, é excêntrico. Para quem olha para as montras, sobra a certeza: "Não andava com aquilo nem que me pagassem".
* JORNALISTA