<p>1- A cerca de duas semanas do início do ano escolar, a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) começa a marcar a agenda mediática. É um clássico. O que vai mudando é o argumentário da desgraça. Sim, porque são sempre negras as cores escolhidas pela Fenprof para pintar um retrato degraçado do sistema de ensino português.</p>
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Este ano, Mário Nogueira, o incontestado líder da federação dos docentes, escolheu o desemprego como motor de arranque para a contestação. A táctica é simples: agitam-se uns números aparentemente monstruosos para impressionar o "povo". Ei-los: de um total de 47608 docentes candidatos a contratos, 39613 ficaram sem colocação; e, desses, mais de 20 mil não tem direito a subsídio de desemprego.
Isto, que deveria servir para garantir o escândalo, quer dizer o quê? Que dizer que o sistema de ensino português não consegue absorver todos os professores disponíveis, simplesmente porque há mais professores do que aqueles que são necessários. É um problema de oferta, resultante ora da escolha de cada um, ora das circunstâncias da vida de cada um.
O Estado só tem a obrigação de colocar nas escolas os professores que as escolas dizem necessitar. A Fenprof entende que não: entende que o Estado deve garantir emprego a toda a gente, custe isso o que custar. Quem se atreve a contestar uma ideia tão bonita? Ninguém. Porque quem se atrever leva com doses cavalares de demagogia: se há dinheiro para novos aeroportos e TGV's, por que raio não há-de haver para dar emprego a todos os professores? Ou há moral, ou comem todos.
A Fenprof até já encontrou a fórmula para salvar os docentes que ficam sem emprego: aumenta-se o número de turmas, reduzindo o número de alunos em cada uma delas. Brilhante! A tese pode aplicar-se a tudo, como está bom de ver. Não há trabalho que chegue para os lixeiros (com o devido respeito pela classe)? Obriga-se os portugueses a produzir mais lixo. Não há emprego suficiente nas pastelarias? Decreta-se o consumo diário e obrigatório de seis pastéis de nata por cada português. E por aí adiante, rumo à felicidade de todos. Garantida pelo Estado, claro.
2 - O Estado foi condenado a pagar 100 mil euros a Paulo Pedroso, por se ter concluído que a sua previsão preventiva, na sequência de uma acusação de crimes de abuso sexual de menores feita por quatro jovens, resulta de um "erro grosseiro" do famoso juíz Rui Teixeira. O Ministério Público vai recorrer da decisão. Magnânimo, Pedroso disse ontem, socorrendo-se de uma adágio, que a Justiça pode tardar, mas não falta. Trata-se de um parco consolo. Ouvir falar de um "erro grosseiro" numa matéria tão delicada como a que está em causa quase arrepia.