<p>Andam para aí umas contas que apontam para dois mil euros por contribuinte. É o valor da prenda que neste Natal cada um de nós oferece ao BPN. Queiramos ou não aderir ao peditório, que ninguém sabe se será o último.</p>
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Claro que só mentes perversas ousam fazer tais leituras. O caso pode sempre ser visto sob um prisma mais positivo. Com a nacionalização, salvou-se a banca do contágio - do "risco sistémico", em economês. Foi, sabe-se agora, uma obra de caridade: já não há risco sistémico; há a certeza de que somos nós, e não os antigos accionistas do BPN, a pagar a factura dos erros de cálculo - para ser benigno - que o Governo cometeu. Terá avaliado mal os activos de que o banco dispunha e ficou com o menino nos braços. Um menino caro de alimentar, por sinal.
Sem saber muito bem como descalçar a bota, já que a imagem do BPN caiu nas ruas da amargura e não há quem se chegue à frente para o comprar, Teixeira dos Santos empurra para Janeiro uma ida à Assembleia da República, que há demasiado tempo aguarda explicações e vai conhecendo a evolução do processo pelos jornais. Mais uma vez, o Governo oferece o peito às balas da Oposição; mais uma vez alguns partidos da Oposição fazem o que podem para apagar da memória as suas responsabilidades na história. Como a vontade muda com os tempos, PSD e CDS-PP, que outrora se eriçavam quando ouviam falar em nacionalizações, aplaudiram a entrada do BPN no universo público. Até a votaram favoravelmente no Parlamento. Agora, juram que sempre exprimiram reservas.
No "banco do regime", quando o regime era cavaquista, o próprio Cavaco Silva fez óptimos investimentos - renderam-lhe 360 mil euros. Hoje, os antigos governantes do PSD, sorte a deles, já não mandam no BPN. Nós também não, embora nos tenhamos tornado involuntários accionistas.
PS- Boas festas, caro leitor. Nesta quadra, ofereça a outra face. Siga o conselho do candidato presidencial Cavaco Silva: não insulte os mercados internacionais. Se eles se irritam, arriscamo-nos a que o Governo, um dia destes, tenha de baixar salários, aumentar impostos e cortar nas pensões e nos subsídios. Não queremos que isso aconteça, pois não?