Reservo sempre a 2.ª quinzena de agosto para apanhar sol e dar uns mergulhos numa praia da Costa Vicentina que nem que me torturem direi se chama Zavial. A água do mar é mais fria que na Manta Rota, mas enrija as carnes, refresca e é linda, limpa e transparente. E o facto de ser mais ventosa do que a praia dos Tomates é amplamente compensado pela fraca densidade populacional no areal que permite desfrutarmos de uma generosa porção de espaço vital.
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Sou bicho de cidade, mas quando chega o verão anseio pelas minhas duas semanas de praia, com o coro das cigarras, nas tardes quentes, a servir de banda sonora a intermináveis partidas de "king" disputadas num alpendre que espero esteja povoado de osgas, animal incompreendido apesar de ser merecedor de toda a nossa estima e consideração pois alimenta-se de incomodativos mosquitos, moscas e melgas.
O mais maravilhoso das férias é o quebrar das rotinas a que temos de obedecer durante o resto do ano. Mas também gosto da contagem decrescente (já só faltam dois dias!), o salivar pela sua chegada, pelo que não resisto em partilhar os sete prazeres que mais aprecio nas férias:
1. A felicidade de adormecer sabendo que vou poder acordar e sair da cama apenas quando quiser e não quando o telemóvel anunciar que são sete e meia - apesar de saber que, pelo menos nas primeiras manhãs, vou despertar às sete e meia;
2. Não saber a quantas ando, se é terça ou sábado. Perder a conta aos dias é um luxo equivalente a uma colherada de beluga acompanhada por uma flûte de Cristal Roederer;
3. Ler um livro a pronto pagamento, ou seja começá-lo e acabá-lo no mesmo dia, em vez de prolongar o ato por dezenas de prestações com prejuízo para o gozo que uma leitura sôfrega pode proporcionar;
4. Fazer as refeições ao ar livre e sem hora marcada com as pessoas com quem durante o resto do ano apenas jantamos à pressa (e nem todos os dias) é vital para evitar que familiar se torne sinónimo de desconhecido, o que é perigoso;
5. Depois do jantar e de ir a pé tomar um café ao bar de praia, juntar família e os amigos à volta da mesa, no alpendre, a jogar o Ticket to Ride, o mais interessante (não mete dados) jogo de tabuleiro que me foi apresentado este século;
6. Respeitar uma dieta pobre em telemóvel (levá-lo para a praia deveria ser criminalizado) e automóvel (observando um jejum de três dias após uma utilização) e desprovida de televisão (a única exceção admissível é um jogo de futebol no café) permite-nos voltar de férias muito mais calmos e inteligentes;
7. Dar um mergulho quando estamos suados e depois secar o corpo molhado ao sol são prazeres low cost e que num dia bom eu repito pelo menos uma dúzia de vezes.
Bem, espero que não dê por perdido o tempo gasto na leitura deste manual de instruções, que obedece a um princípio básico: independentemente de fazer férias em casa ou fora - ou até de, infelizmente, estar de férias forçadas -, o importante é quebrar as rotinas.