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Poucas horas antes de morrer, Fernando Paulouro tinha lançado o seu último livro, "As sombras de um combatente", numa sala cheia da sua terra de sempre, o Fundão. Caiu como viveu: a partilhar letras e combates, apegado a uma ideia de cidadania e de jornalismo que conservou quando tudo à sua volta mudava e de certa forma parecia desmoronado e em desuso.
A sua vida confunde-se com a do jornal que o tio fundou e que dirigiu durante dez anos. Num país de jornalismo regional incipiente, o "Jornal do Fundão" atingiu um patamar único. Fundado em 1946, enfrentou décadas de escuridão fascista e tornou-se símbolo de resistência e de liberdade, afirmando uma voz própria ouvida em todo o país.
Apesar de estar num território afastado de todas as decisões, o semanário cativou alguns dos maiores intelectuais portugueses e brasileiros. Pelas suas páginas passaram nomes como José Saramago, Carlos Drummond de Andrade, Mário Césariny ou Eugénio de Andrade, entre outros, mostrando que a excelência e o debate pleno de ideias não têm fronteiras nem cabem apenas nos palcos mais fáceis dos meios cosmopolitas.
Fernando Paulouro é símbolo de um modo de ser do jornalismo que não cede ao facilitismo nem se deixa abater pelas exigências empresariais. "Não se pode pactuar com inquinações éticas ou com a mercantilização da informação", escreveu no último editorial que assinou, em dezembro de 2012. Fernando Paulouro é, simultaneamente, símbolo de um país que resiste. Que se bate pela justiça social, pelo progresso, pelo direito a ser ouvido a partir de qualquer lugar. Um país que acredita. E que necessitados estamos de acreditar.