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Os socialistas já têm governo. Comunistas e bloquistas fazem de conta que sim. Mas Portugal não. Sendo que dificilmente se encontraria melhor data para a indigitação de António Costa primeiro-ministro: 24 de novembro. 40 anos antes, em 1975, o "Diário de Lisboa" relatava que as forças democráticas do PS, PPD e CDS se mostravam "muito ativas".
No comício do PS, na Alameda Afonso Henriques, gritou-se "Otelo estrangeiro", "Rosa Coutinho assassino", "Costa Gomes Palhaço" e "Cunhal para a Sibéria". Jorge Campinhos apelou à "necessidade de Homens apartidários como Pires Veloso e de revolucionários como Jaime Neves." Salgado Zenha repudiou a "instauração de uma ditadura militar com Rosa Coutinho à frente e o PCP como sacristão." E Mário Soares responsabilizou o PCP pela crise política ameaçando: "Haverá convulsões terríveis se o VI Governo cair".
Em Mirandela, Sá Carneiro denunciou a "manipulação da Rádio, da TV e de alguma imprensa".
E no comício do CDS, em S. João da Madeira, palavras de ordem foram "Galvão salva a Nação", "Governo para o Porto", "queremos eleições, não queremos o comunismo".
Vivia-se o estertor do PREC - Processo Revolucionário em Curso - feito da negação de resultados eleitorais pela extrema-esquerda. Durante o Verão Quente, PCP e UDP (embrionário do BE) e forças políticas do mesmo tom empenharam-se na concretização do "rumo ao socialismo", o deles, por outros meios. Convivia-se com ocupações de terras, a reforma agrária, nacionalizações e saneamentos arbitrários dos "inimigos da Revolução".
O PS - a par do PPD e do CDS - foi obreiro político do dia seguinte. Impedindo a aventura totalitária da extrema-esquerda, o 25 de Novembro assegurou em 1975 as bases de um regime em que a vontade do povo conta, para que possa governar quem vence eleições livres. Pelo menos era suposto. E durante quatro décadas foi assim.
40 anos depois do último dia do PREC, António Costa foi indigitado primeiro-ministro em representação de um partido que perdeu as eleições. Dias antes, os deputados do PS, PCP e BE haviam recusado participar no grupo de trabalho convocado para organizar a cerimónia parlamentar evocativa do 25 de Novembro. Ato contínuo, na Assembleia Municipal de Lisboa o BE reafirmava o seu orgulho pelas ocupações, nacionalizações e Reforma Agrária. E no Parlamento Europeu, PCP e BE desdobram-se em iniciativas contra os compromissos europeus, subscritos pelo Estado português.
A 24 de novembro de 2015 o novo PS mudou de barricada, envergonhou-se da sua história e deu a mão ao PREC.
Viva o 25 de Novembro.
*DEPUTADO EUROPEU