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Os estudos sobre as migrações ensinaram-nos que, em geral, as pessoas migram para procurarem melhores condições de vida ou para fugirem de situações de guerra ou de catástrofe natural. Os portugueses que hoje emigram já não fogem da tropa para não ir à guerra, fazem-no para melhorar as suas vidas. Muitos saem para estudar e já não regressam, outros procuram empregos com possibilidades de realização pessoal, ou melhores salários, outros condições de acesso a habitação. Há ainda os jovens que saem para iniciar projetos de vida autónomos das famílias de origem.
O desejo de partir para viver melhor e a ambição de realização pessoal e profissional não podem ser encarados com dramatismo. É bom que os portugueses, mais ou menos qualificados, possam emigrar. É bom que tenham hoje mais recursos e capacidades para aproveitar as oportunidades de uma vida melhor noutros países. É bom que possam ir e voltar. E é bom que sejam livres para ficar ou partir.
O país fica mais pobre sem eles? Talvez. O país precisa deles? Precisa. O país está em dívida e precisa de fazer “tudo”, sobretudo pelos mais qualificados, para que fiquem, para que não partam? Não me parece. Os pais e avós de muitos dos jovens da atual geração proporcionaram-lhes acesso à educação e a cuidados de saúde de que eles próprios nunca beneficiaram. Pessoalmente, penso que se há alguma dívida é apenas para com aqueles que saem para fugir da pobreza, sem qualificações e sem recursos.
O problema do país não é a emigração, em particular a dos jovens que decidem não ficar. O problema do país são as oportunidades que oferecemos, ou melhor, não oferecemos. Não só aos que partem, mas sobretudo aos que ficam ou regressam.
Uma pequena história que ilustra o que quero dizer. Conheço um jovem, hoje com 40 anos, que emigrou há mais de quinze. Trabalhava, antes de emigrar, como técnico superior numa Câmara Municipal, a recibos verdes. Saiu do país para fazer o mesmo, mas com contrato de trabalho e melhor salário. Casou, teve filhos e continua a trabalhar na mesma área técnica, na cidade onde vive emigrado. Entretanto, progrediu na carreira e tem agora funções de chefia e melhor salário. Este ano veio de férias e visitou um dos colegas que entrou na Câmara no mesmo ano que ele. O colega ali se mantinha: no mesmo serviço, na mesma posição e ganhando hoje, dezasseis anos depois, apenas mais 300 euros. Outros amigos tinham-se, entretanto, mudado para os subúrbios porque o seu salário já não chegava para pagar as rendas em Lisboa.
Enquanto forem estas as oportunidades ao alcance dos jovens, muitos procurarão fora o que cá dentro não encontram.