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As coisas mais interessantes que tenho aprendido sobre futebol nos últimos tempos têm-me chegado através do meu filho. Não porque ande a ler os jornais desportivos errados, ou porque tenha em casa um sobredotado da informação. Apenas porque o mundo da bola continua tragicamente entregue aos desmandos de paralelepípedos com olhos. E ver a realidade pelos olhos de um miúdo torna tudo mais encantador e simples. Não parece, mas o futebol não se esgota nos 27 programas semanais sobre empurrões na grande área, nas investigações judiciais, nos emails, nas buscas ao estádio, nas apostas manhosas e nos egos maiores do que o corpo. E muito menos nas guerras tribais entre propagandistas. O futebol é um universo erguido à base de detalhes corriqueiros. O chuto de trivela, a alegre coreografia do festejo de um golo, a defesa impossível de um guarda-redes baixinho, a emancipação de um central de 18 anos que não vacila, o petardo do meio da rua que agita as redes. É o jogo. Ganhar. Ser campeão. Perder. Aprender. Driblar com pés de filigrana e deixar os miúdos de cabeça à roda a tentar imitar a finta. "Ó pai, já consigo fazer". Agora que a época vai começar, só me dá vontade de ficar sentado com ele nessa nuvem alta, a da inocência, prezando o que de mais valioso tem uma baliza, uma bola e umas chuteiras. Usufruindo de um encantamento que se esvazia na crueza do negócio.
JORNALISTA