Um grupo de fidalgos arruinados é, já de si, pouco recomendável. Quando o grupo de fidalgos arruinados resolve usar o chico-espertismo como fórmula de se colocar em bicos de pés ou pura e simplesmente sobreviver tanto pior. E das duas uma: ou são tolerados nos seus golpes palacianos ou convém haver quem os meta na ordem. E depressa.
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O futebol português é um caso típico de má frequência por estes dias. Já não bastava a maioria dos clubes viverem acima das suas posses, usando uma carteira pobre e muita imaginação para fintar as leis e levarem vida de rico e eis que uma parte dos dirigentes resolveu juntar o oportunismo à falta de escrúpulos. Aflitos, de calças na mão, resolveram em Assembleia-Geral da Liga ditar o impensável para alguém de bom senso: o alargamento dos campeonatos profissionais já na próxima época, passando a I Liga de 16 para 18 clubes e a Liga de Honra de 16 para 22! Um fartote... de disparates!
Muito pior do que três parceiros de um jogo de sueca resolverem a meio de uma partida mudar o naipe de trunfo, o sentido de voto da maioria dos clubes na Assembleia-Geral da Liga mandou às urtigas a competição e as regras definidas para os campeonatos em curso e usou métodos asnáticos. Isto é: assemelhando-se a alcateia faminta, sem cuidar do interesse geral do futebol português, da sua rentabilidade económica à condição sociológica do país.
Que vantagens decorrerão do aumento de participantes nos campeonatos? A proposta aprovada, além de livrar a pele dos condenados a despromoções tem algum estudo económico-financeiro a baseá-la? Não, decididamente não. E se os estádios estão já às moscas no atual modelo competitivo, como ficarão com mais 288 (!!!) jogos numa época? Há, por acaso, alguma perspetiva lógica de aumento de receitas, sejam elas por via da sponsorização, da bilhética ou, pura e simplesmente, o objetivo é tornar irrespirável um superlotado calendário, gerando ainda mais despesas, mais salários em atraso e dificuldades dos concorrentes a um patamar superior de competição - as provas europeias?
A decisão de alargamento dos campeonatos é, sob todos os pontos de vista, marcada pelo oportunismo e não augura nada de bom. Não é que os emblemas mais geradores de receitas não tenham deveres de solidariedade para com os clubes de média e pequena dimensão; não podem é mandar-se às malvas princípios basilares.
A navegação à vista é, pois, intolerável. Adivinha-se uma batalha jurídica sem fim e que a indústria do futebol dispensaria em Portugal. Assim como assim, impõe-se algum decoro e coragem para contrariar o golpe de um naipe de fidalgos arruinados. Em sequência, urge travar o oportunismo - e já na Federação Portuguesa de Futebol, a entidade que delegou na Liga, agora arrivista, algumas competências. Se tal não acontecer resta ainda a esperança de bloqueio de uma triste decisão no Conselho Superior do Desporto ou, em último recurso, pela intervenção do secretário de Estado do Desporto. Nessa circunstância, o governante deve usar as prerrogativas que há uns tempos aconselhou aos jovens em matéria de emigração: sair da zona de conforto e agir.