Estamos safos? António Costa diz que não, apesar dos mais de 15 mil milhões de euros que a União Europeia nos vai dar para combater a crise provocada pela pandemia. E "dar" é a palavra correta.
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São ao todo 390 mil milhões a distribuir pelos 27 países-membros, recordando que quem nos vai oferecer este bónus são, principalmente, a Alemanha, Holanda, Suécia, Áustria e Dinamarca. Pessoalmente, preferia que Portugal estivesse no lugar dos filantropos e não dos pedintes. Era sinal de que a economia do país poderia aguentar choques e, mesmo assim, ajudar os outros. Como é evidente, quem paga a fatura tem uma atitude interesseira em relação aos "pedintes" portugueses, espanhóis e italianos. São muitos milhões de consumidores a comprar produtos do Norte e que uma crise de grandes dimensões afetaria, isso sim, também os mais ricos.
A longa cimeira do Conselho Europeu foi, uma vez mais, a voz da profunda divisão política. Até agora, no caso dos países chamados "frugais", mostrou-se uma raquítica conceção da solidariedade, ao baixar o montante do fundo de recuperação e, ao mesmo tempo, exigir o que não é feito com a sua população: manter um mercado laboral e sistema de pensões precários e, com isso, converter em vassalos os países mais afetados pela covid. Da moeda de troca, até agora, António Costa ainda não falou. Este conjunto de países a que chamamos União Europeia habituou-se desde cedo a caminhar sempre na borda do precipício, ou por não respeitar as decisões previamente tomadas ou por não acreditar num futuro comum. Ou ambas. Enquanto prevalecer a regra da unanimidade, em que basta um país opor-se para ditar o futuro da União Europeia, não iremos longe. Principalmente quando existem divergências graves no financiamento à solidariedade, nas políticas migratórias, de defesa ou do meio ambiente. Mal ou bem, o acordo está feito, o mais difícil agora é pô-lo em prática. Cada dia que passa é um dia perdido face aos desastres sociais e económicos anunciados.
Editor-executivo