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Já escrevi aqui nesta coluna sobre muitos assuntos e temas, uns pessoais, outros polémicos, todos com a convicção de que estava certo.
Certamente que falhei nesse objetivo, o de estar sempre certo. Ficarei feliz se se verificar que estive mais vezes certo do que errado, um dia quando esta oportunidade rara terminar, como um dia terminará.
Mas nunca escrevi sobre touradas, não porque quero fugir à polémica, antes porque não me parece sequer que haja razões para polémicas: as touradas, enquanto espetáculo que se serve de animais feridos, têm de acabar.
Não é possível sustentar esta prática na tradição. As tradições dão lugar a outras tradições. E há muitas que acabam. A sociedade, as comunidades fundam-se em práticas cristalizadas e evoluem quando elas se alteram. É verdade que é difícil escolher, entre a identidade construída e a construção da identidade. É por isso mesmo que as fricções existem, tantas quantas as vontades opostas que se levantam.
Tudo isto é verdade e ainda assim não se percebe como é que é possível defender a manutenção de uma tourada, aos olhos do civismo de hoje. Para quê e para que serve? Que causa mais alta se protege, que benefício para todos se obtém, em nome de que vantagem se pode justificar que o Estado português suporte o suplício público de animais?
Jornalista