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Rui Rio sempre teve, que se conheça, dois dons: uma capacidade única para encantar os de fora enquanto desencantava os próximos; passar a imagem de político que sempre segurou a bandeira contra a corrupção, desde os tempos em que dava os primeiros passos como candidato à Câmara Municipal do Porto.
Sobre o primeiro dom, diga-se, em abono da verdade, que foi assim que enquanto líder do PSD tão depressa conquistou os corações da opinião pública que comenta, sobretudo a sul do Mondego, como caiu em desgraça.
Quanto ao segundo, para lá das opiniões muito claras sobre o estado da Justiça, não se lhe conhecem percalços que pudessem fazer com que as portas de casa fossem escancaradas em frente às televisões por agentes da PJ, numa sequência de outras buscas às residências de alguns funcionários do partido e às sedes do PSD em Lisboa e no Porto. O deputado Hugo Carneiro, que foi secretário-geral-adjunto do PSD e responsável pelas contas do partido durante a liderança de Rui Rio, também é um dos alvos.
Sobre a investigação em causa, ainda há demasiada neblina. A PJ explicou, em comunicado, haver “suspeitas da eventual prática de crimes de peculato e abuso de poderes (crimes da responsabilidade de titulares de cargos políticos)”, estando em causa o facto de terem sido pagos ordenados a funcionários do PSD com verbas da Assembleia da República que deveriam ser utilizadas para cargos de assessoria dos grupos parlamentares.
Todo este cenário, no imediato, tem pelo menos um impacto enorme na imagem de impoluto que Rui Rio sempre ostentou. É desejável que a Justiça seja célere e, sobretudo, que os políticos em geral e os partidos em particular estabeleçam regras de funcionamento transparentes. Porque o que é absolutamente certo é o aproveitamento das franjas mais extremistas para desvalorizarem o nobre ofício da política e a destruição das instituições democráticas.
*Diretor-Geral Editorial