Há animais dóceis que se tornam violentos com a idade, pessoas boas que se transformam em más com o tempo e o Fisco português, que em maio patrocina operações de cobrança de dívidas na berma da estrada e em setembro faz inspeções "amigáveis" a empresas e particulares.
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É tão absurdo confiscar o carro por causa de uma dívida de IRS a um automobilista que vai levar os filhos à escola como anunciar visitas fofinhas. À Autoridade Tributária pede-se, essencialmente, justiça e eficácia. Não me incomoda que o Fisco trate bem os contribuintes - é uma obrigação. Mas interrogo-me por que razão acontece esta brusca mudança de atitude, este passar do oito ao oitenta, depois das investidas tão agressivas quanto desproporcionadas da primavera. Mesmo admitindo que posso estar enganado, só vejo um motivo: as eleições a 6 de outubro, que impõem prudência na hora de hostilizar eleitores. Quarenta e cinco anos após o 25 de Abril, a democracia e, neste caso, o sistema fiscal, ainda são instrumentalizados em função do calendário político, o que constitui um péssimo sinal de falta de maturidade.
*JORNALISTA