<p>A taxa de desemprego portuguesa registada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) deu um pulo para os 10,8%. A percentagem, ontem divulgada, é igual à estimativa feita há uns dias pelo temível Eurostat, o organismo que põe a nú, com recurso a números, o estado dos países da União Europeia. Em Abril, havia, portanto, cerca de 600 mil portugueses sem emprego - um novo recorde dos últimos 20 anos. Somos agora o quarto país da OCDE com mais desempregados. O ranking é liderado pela vizinha Espanha, com uns brutais 19,7%.</p>
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Não vale a pena suspirar, porque, por muito que nos custe, é certo e seguro que o desemprego continuará a aumentar - só não se sabe a que ritmo. Uma das notas mais relevantes a extrair deste aumento em Abril prende-se com a o facto de até o "efeito férias" ter perdido relevância. Normalmente, o turismo faz recuar, ou pelo menos ameniza, o volume de desempregados. Agora, nem isso.
De modo que o contributo dado pelo consumo interno para o aumento da nossa riqueza (uma das alavancas para o crescimento registado no primeiro trimestre) tenderá, naturalmente, a decrescer. À falta de capacidade de compra junta-se a inevitável subida das taxas de juro, que raparão ainda mais os parcos orçamentos das famílias portuguesas. Sobra o quê? Sobram as exportações, a capacidade do país para vender lá fora o que é feito cá dentro.
Aproveitando o balanço, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, disse ontem que o seu partido proporá ao Parlamento a aprovação de "mecanismos mais flexíveis de emprego", sem mexer, porém, no Código do Trabalho.
Esta é uma conversa politicamente perigosa, porque tende a afastar os eleitores que já sofrem na pele os efeitos dramáticos da falta de trabalho. Mas, em bom rigor, também é uma conversa politicamente corajosa, na medida em que coloca o acento onde ele deve ser colocado: o Mundo mudou, as realidades exigem novas respostas - e é preciso frieza para não afastar liminarmente nenhuma possibilidade que possa melhorar o nosso inflexível mercado de emprego.
Não aceitar isto e argumentar com os dogmáticos "direitos adquiridos" é não querer ver o problema em que estamos metidos. E para o qual não há solução imediata e milagrosa.